domingo, 27 de dezembro de 2015

Artigo Jornal Estado de Minas


Artigo publicado no Jornal Estado de Minas no dia 27/12/2015.

Artigo Diário de Caratinga

O verde está ficando cinza
Walber Gonçalves de Souza

                Encontramos uma terra em que se plantando tudo dá. Esta foi uma das características apontadas por Caminha, escrivão da esquadra de Cabral em 1500, para descrever o local que eles acabam de "achar". Desta maneira ele quis demonstrar uma das qualidades daquelas terras recém "descobertas".
                As cores nacionais estampadas na nossa bandeira demonstram nossas riquezas, mas neste texto destacarei uma, o verde que representa toda a diversidade ambiental do nosso país, nossas matas e sua biodiversidade.
                Associando o pensamento de Caminha e o verde da bandeira, podemos chegar a uma conclusão: ambas retratam a abundância das nossas riquezas naturais e como passamos a ser vistos e reconhecidos mundialmente.
                Mas a abundância que em si é algo positivo, pois a própria expressão indica fartura, riqueza, transmite a sensação de uma quantidade de algo que extrapola as necessidades momentâneas, portanto induz à segurança, ao conforto, cria uma sensação de que tudo está bem, pois nada há de faltar.
                Mas por outro lado pode-se tornar uma problema, pois ao entrar na zona de conforto corremos o risco de deixar de tomar medidas que são necessárias para a manutenção e até mesmo para aumentar  tudo aquilo que já tínhamos em abundância.
                Dito tudo isto, vejamos o que aconteceu no nosso país: durante anos ficamos extraindo uma árvore, que ganhou o nome de pau-brasil, pensando que nunca iria acabar, o resultado é que há resquícios de mata atlântica aqui e acolá e muitos brasileiros nem conhecem esta famosa planta. Pelo visto não aprendemos a lição e estamos fazendo a mesma coisa com a floresta amazônica. Como aqui em se plantando tudo dá, nossos práticas provocaram o esgotamento do solo de parte do nordeste brasileiro, ao cultivar durante décadas a cana de açúcar, depois fomos para a região sul e continuamos com a mesma forma de manejo tendo com base a monocultura. O  desfecho foi,  regiões que apresentam alto índice de áreas desertificadas, "terra morta". E pelo visto a história tende a se repetir na região centro-oeste.
                A região sudeste não passou despercebida aos olhares evolutivos do ser humano. Somos a região da política do café com leite, portanto duas práticas de desenvolvimento econômico ligadas diretamente ao meio ambiente, ou seria ao descaso do uso dele, os dias atuais respondem a esta inquietação! Mas não podemos esquecer  algo muito pertinente ao momento presente que tem sua raiz em épocas remotas, recordemos o ciclo do ouro, que acabou ganhando a companhia de outros minerais, ratificando ainda mais o nome do nosso estado Minas Gerais, muitas minas em todos os lugares. O desfecho de tudo isto, pergunte aos moradores  das margens do Rio Doce e encontrará a resposta.
                Somos a caixa d'água do planeta. O paraíso na terra. Nunca vai faltar água por aqui. Nossos rios são abundantes. Enfim, quantas afirmativas deste tipo você já ouviu? Aposto que além destas tantas outras. Mas onde está a água? Que angústia estamos vivenciando nos nossos lares. Muitas vezes a torneira insiste em ficar silenciosa. Quem sabe o silêncio dela não é uma alerta para a nossa consciência.
                Nossa maior riqueza, a abundância, transformou-se no nosso maior problema. Pois criou uma mentalidade de que podíamos viver de qualquer forma, de qualquer jeito, sem se preocupar com nada. E assim anos após anos fomos desenvolvendo, criando, mudando sem nenhuma preocupação com as conseqüências que os nossos atos poderiam provocar ao meio ambiente, ao equilíbrio do ecossistema.
                O conceito de Desenvolvimento Sustentável é muito pertinente pois sinaliza posturas que deveríamos ter para continuar nosso processo de desenvolvimento mas de forma consciente. Ensina-nos que a abundância que temos merece ser bem administrada para continuar existindo e sendo fonte de possibilidades para que cada um de nós também possa continuar existindo.  
                O verde que simboliza nossa biodiversidade não pode perder a sua cor. Caso  contrário num futuro muito próximo teremos que mudar a cor da nossa bandeira, o verde está ficando cinza.


Walber Gonçalves de Souza é professor do Centro Universitário de Caratinga - UNEC.

Crônica Diário de Caratinga

Guerra civil silenciosa
Walber Gonçalves de Souza


                Entendemos por guerra civil o conflito existente entre os membros de uma própria nação, geralmente grupos que brigam entre si por algum objetivo. De um modo geral estes grupos são formados pela minoria da população, mas seus efeitos são praticamente percebidos e vivenciados por todos. A violência e o terror são as características principais que alimentam os conflitantes.
                Em alguns lugares a guerra civil está escancarada, um exemplo atual seria o conflito entre os sunitas e xiitas, dando origem ao famoso estado islâmico e seus feitos. Historicamente poderíamos destacar os seguintes países que foram e alguns ainda são palcos de guerras civis cruéis: o apartheid na África do Sul, Camboja, Irlanda do Norte, Síria, Congo, Caxemira, Haiti, Uganda, Angola... e tantas outras espalhadas mundo afora que formam um lista considerável.
                Mas vivemos no Brasil, em um país de povo pacífico, amável, acolhedor, que está sempre de braços abertos. Portanto, não devemos temer, pois nunca correremos o risco de vivermos uma guerra civil. Será?
                Aproveite um domingo, durante o dia, para fazer uma caminhada pela cidade onde  você mora e faça o seguinte exercício: caminhe vagarosamente pelas ruas do bairro em que você reside e vai observando as habitações com calma, com raríssimas exceções chegará à seguinte conclusão; praticamente em todas elas será possível verificar a existência de grade nas janelas, portões, muros, em algumas cerca elétrica e monitoramente via câmeras.              
                Outra experiência que você poderá fazer, embora esta eu não aconselho, é sair pela madrugada e caminhar pelas ruas, você encontrará muitas pessoas pelas esquinas, vivendo o submundo que envolve o tráfico de drogas. E infelizmente estão prontas para tudo, roubar, matar, prostituir... Em várias cidades as pessoas têm medo de sair à noite, em outras existem locais que você pode entrar ou passar, mas não sabe se sairá vivo ou conseguirá concluir o seu trajeto em paz.
                Aos poucos vai nascendo de forma silenciosa um guerra civil, onde o medo e a impunidade faz com que as pessoas se tranquem em suas próprias casas. Em contrapartida a minoria que aterroriza e está disposta a tudo domina as ruas, os bairros, criando uma sensação de insegurança.
                Todos os dias as páginas dos jornais e as reportagens dos telejornais estão repletos de pessoas assassinadas, roubadas, cada crime que acontece que faz nascer uma pergunta cruel: como pode o ser humano ter coragem de fazer uma coisa dessas? Ou até mesmo a seguinte exclamação: a que ponto está chegando o ser humano! Algumas capitais de Estado parecem estar vivendo uma guerra civil aberta, todos os dias morrem inúmeras pessoas vítimas desses conflitos.
                Sabemos que não podemos ser simplistas em relação a este problema, nem tão pouco fingir que ele não está acontecendo. Mas entre as várias causas, destaco a crescente e manipulada opinião pública que prega contra as autoridades constituídas. As instituições estão perdendo o seu papel e com a decadência delas o caos se generaliza.
                Podemos afirmar com toda a certeza do universo que existem pais que são maus pais, que não cumprem com o seu papel de provedores dos seus filhos e do lar. Da mesma forma, que existem em todas as profissões maus profissionais. Não podemos também tampar o sol com a peneira e infelizmente constatamos que nas mãos de alguns daqueles que deveriam cuidar da segurança, portanto os nossos agentes de segurança pública, os policiais, há muita sujeira, corrupção, desonestidade, situações que mancham as instituições às quais eles pertencem. Mas este é o grande problema, acreditar que estas pessoas são a maioria. Assim não se "combate" os maus pais, os maus profissionais, os maus policiais. Acham mais fácil acabar com a família, permitir que qualquer pessoa de qualquer jeito se torne um profissional de qualquer área e denegrir as instituições policiais, como se todos os policiais não prestassem.
                Combatendo os maus abriremos espaços para os bons, para os justos, para aqueles que cumprem com orgulho as atribuições para as quais foram designados. Não podemos permitir que em nome da impunidade e dos maus (que acredito ser a minoria) se instale nas nossas cidades uma silenciosa guerra civil, pois no dia em que ela se tornar evidente aí sim, nossas casas irão se tornar definitivamente a nossa prisão.


Walber Gonçalves de Souza é professor do Centro Universitário de Caratinga / UNEC.

Artigo Diário de Caratinga

TRAVESSIA

Crônica publicada no dia 08/12 no Jornal Diário de Caratinga.


Fim de ano chegando, momento de parar para festejar, para rever amigos, colocar aquelas coisinhas que ao longo do ano foram se acumulando no lugar e também a época de reavaliar a vida, nossos pensamentos, valores e atitudes.
Como diria Fernando Pessoa, “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos”
Uma das características da complexidade humana é justamente a nossa capacidade de mudar, desde que haja necessidade e vontade, é claro. Algumas mudanças fogem ao nosso controle pois fazem parte do desenvolvimento biológico, fazem parte da natureza humana, nascer, crescer, desenvolver-se e deixar o legado para a prosperidade da própria humanidade. Agora, outras são frutos das nossas escolhas, do ambiente cultural em que vivemos, das pessoas com que nos relacionamos, dos sonhos e esperanças que cultivamos.
Ao longo da vida, portanto, passamos por vários ciclos independentemente se eles são próprios da natureza humana ou se são frutos das nossas escolhas. Assim, estamos vivendo eternos momentos de travessias, que representam as nossas passagens por estes ciclos, até que eles se completam e outros comecem, dando início a uma nova travessia.
Entre estas travessias podemos destacar algumas que fazem parte das comemorações de fim do ano. Quando alunos estão vivendo seus momentos de formatura, fechando sua travessia escolar, acadêmica, e vivendo a expectativa dos dias vindouros. Outros ainda, terminando o ensino médio e preparando-se para dar início ao mundo universitário.
No dia a dia da vida nos deparamos também com momentos de travessias diversas, a casa que finalmente ficou pronta para tornar nossa moradia ou a reforma que revigorou o ambiente; a viagem dos sonhos que foi realizada; o casamento de algum ente querido; a gestação de um filho; o fim de um ciclo em algum emprego; a mudança para um nova casa numa nova cidade; o fim da vida de solteiro ou do casamento; pessoas que deixam a nossa vida, pessoas que entram na nossa vida; enfim, são intermináveis as situações que podem nos proporcionar situações de travessia.
Mas devemos ter consciência que as travessias não são fáceis, exigem renúncias, mudanças, quebras de paradigmas. Um exemplo simples da minha época de infância, período de férias escolares, lembro-me da pinguela que até hoje está localizada no mesmo lugar unindo as margens do Rio Caratinga, mas que seria necessário transpô-la para que minha família pudesse chegar até à casa dos meus avós que moram na zona rural. Ainda em casa o frio na barriga aparecia e com ele o medo de cair no rio, mas a vontade de revê-los e estar com os primos que reuniam-se neste período era maior possibilitando assim que aquela barreira mental fosse ultrapassada.
Mas em todas elas floresce algo de importante, incrementa novas possibilidades de aprendizado, do surgimento de novas amizades, descobertas inesperadas, proporcionando um novo mundo que colabora para o nosso aperfeiçoamento humano e intelectual.
Não querer conviver com as travessias é deixar o mofo invadir a alma, significa paralisar-se aos convites que a vida nos oferece a todos os instantes proporcionando-nos possibilidades infinitas de sermos melhores. Não querer conviver com as travessias é permitir o definhamento da existência, passando pela vida sem que ela se gaste em plenitude. Não querer conviver com a travessia significa querer estocar algo que não se estoca, a própria vida, que possui dinâmica própria mas permite-nos por os adornos.
Assim, a intensidade da coragem que permite a travessia é a mesma intensidade da felicidade de chegar na outra margem do rio, de curtir uma roupa nova, como diria Fernando Pessoa, de descobrir que há novas possibilidades, que há novos horizontes, que como diria Cazuza "a vida não para".
Lulu Santos na canção "Tempos modernos" dizia, "eu vejo um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera, com habilidade pra dizer mais sim do que não". Milton Nascimento e sua famosa música "Travessia" e tantos outros autores que se debruçaram sobre este tema transformando-o em arte, convoca-nos para uma reflexão: só há travessia para quem se permite atravessar.
Walber Gonçalves de Souza é professor.

domingo, 6 de dezembro de 2015

NOSSAS LEIS SÃO ILEGAIS E IMORAIS?
Artigo publicado (01/12) no Jornal Diário de Caratinga.

Lembro-me de uma propaganda de biscoito que tinha o seguinte slogan: “tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”. Parafraseando o marketing do produto digo: o brasileiro é corrupto porque nossa lei é corrupta ou a lei é corrupta porque o brasileiro é corrupto? Que sinuca de bico conseguir uma resposta convincente para esta questão.
Como cidadão percebo que os três poderes da nação (executivo, legislativo e judiciário) estão presos nas artimanhas das leis que eles mesmos criaram. As intermináveis interpretações e jurisprudências estão deixando nossa nação à deriva, como um barco sem rumo. A luz da lei não está clara, depende de quem conduz a lanterna, de quem dá foco e direção ao facho de luz. E é justamente isto que faz com que interesses particulares sobreponham aos interesses da nação.
E talvez a causa de tudo isto nasça justamente de como todo o processo de formação das leis acontece. Quando o eleitor, de forma corrupta, desonesta, interesseira, se omite, votando em qualquer um ou vende seu voto ele está dando o primeiro passo para toda esta tragédia política que estamos vivendo atualmente. Pois, eleito um corrupto, podemos ter certeza que as leis que ele irá criar serão para proteger a si mesmo e aos seus atos.
Para piorar, aqueles que ocupam os cargos no judiciário, na sua grande maioria, mas acredito que sejam todos, estão ali justamente porque foram indicados diretamente pelos eleitos pelo nosso voto, os nossos representantes do executivo e legislativo. Parece legal, mas não é não! Pense bem, vou citar uma situação como exemplo: um deputado cria e aprova uma lei que parece ser fenomenal, juridicamente perfeita, mas deixa uma pequenina brecha de ambiguidade no último parágrafo do último artigo da lei, totalmente digna de interpretação, depois ele colabora na aprovação de quem será o membro do Supremo (esfera nacional), do Tribunal de Justiça (esfera estadual) ou até mesmo dos juízes (esfera regional) que ocuparão as vagas existentes nos fóruns em todos os cantos do Brasil. Matou a charada? Estes serão os responsáveis por interpretarem as leis ambíguas que foram criadas por quem os indicaram. Assim nasce a ciranda maldita das relações políticas nas terras tupiniquins. Quando acreditamos que as coisas vão acontecer, que agora vai dar certo, que as coisas vão tomar rumo, a sensação de frustração aparece, foi muito barulho pra pouco resultado e tudo, com raríssimas exceções, acaba na famosa pizza.
Mas alguém poderia estar pensando: nossa justiça está funcionando, tenho visto várias pessoas serem presas e condenadas. Ai é que entra a moral de outro ditado popular, “toda regra tem a sua exceção”, nem todos os membros do poder judiciário compactuam ou seguem a cartilha do escárnio da política brasileira. Pena que estes são a infinita minoria, pois têm a coragem de enfrentar um sistema montado para não funcionar de forma correta e justa. Não podemos esquecer também que nossa história é cheia de bodes expiatórios que morrem e são condenados para livrarem a culpa das costas dos comparsas, que como ratos às escondidas continuam a devorar silenciosamente os produtos das despensas, gavetas e armários. Continuam a depenar o erário da nação!
A reforma que queremos e precisamos é muita mais ampla. Faz-se necessário mudar uma série de coisas e um bom começo seria dar autonomia para a formação hierárquica do poder judiciário, onde o mérito realmente seja a escada que levará à ascensão na carreira e não a continuação deste promíscuo processo de indicação para os cargos superiores dentro do judiciário. Indicações que não almejam a competência técnica simplesmente, mas sim a competência em fazer da lei um escudo para a impunidade. Percebo que se criou um ciclo de intervenções políticas que afasta o mérito e estabelece um corporativismo mesquinho entre os poderes.
A reforma que queremos deveria passar também por leis claras, onde as ambiguidades não estejam tão presentes, dando brecha ao famoso jeitinho brasileiro de interpretações por interesses. Onde já se viu um pilantra transfigurado em forma de representante popular ter direito a foro privilegiado, à imunidade parlamentar! É brincadeira, é zombar descaradamente de cada um de nós cidadãos brasileiros. Sem falar em uma série de leis que estão defasadas.
Nossas leis estão presentes em quase tudo menos na realização da justiça. Pelo visto, a dita Constituição Cidadã de 1988 ainda carrega a essência conservadora, elitista e segregadora da Constituição da Mandioca de 1824.
Walber Gonçalves de Souza é professor.

terça-feira, 24 de novembro de 2015


Crônica

EU NÃO RIO QUANDO OLHO PARA O RIO
Crônica publicada hoje (24/11) no Jornal Diário de Caratinga em parceria com Edcarlos Freitas.

No lugar onde nasci beleza igual nunca se viu, um jardim da natureza, águas cristalinas, céu cor de anil, árvores que dançam quando vem o vento; sem contar o brilho que o luar vem me trazer, que lugar bonito! Não canso de me gabar, de nascer em tal paraíso e em tal paraíso morar.
Um dia estava eu a passear pela cidade quando olhei e vi algo estranho andando entre a cidade, devagar, quase parando, seguia seu destino já quase morto, algo sombrio, escuro, perguntei o que era aquilo a um senhor que caminhava pela calçada, e com a voz entrecortada me respondeu sem pensar muito, isto é o rio. Fiquei assustado com o que vi.
Não é novidade para ninguém que o amanhã é incerto, porém nos últimos dias esta afirmação vem se tornando mais real. Desde os primórdios o rio sempre foi algo de muita importância para a sociedade; nas civilizações, desde muito cedo os homens procuraram habitar em regiões próximas aos rios, pois nestas regiões existia abundância de água potável para os membros da tribo e para os seus animais. Os vales do rio Nilo no Egito; a região conhecida como Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, aproximadamente onde hoje é o Iraque; o rio Indo, aproximadamente no noroeste do subcontinente indiano; os rios Amarelo e Azul localizados na China foram rios nos quais em suas margens se desenvolveram grandes civilizações.
O rio como vemos hoje é um espelho que reflete a ignorância humana, uma espécie que dentre tantas tem grande habilidade de destruir seu habitat, e perguntar às pessoas qual a contribuição de cada um para a poluição do rio, é como perguntar a um peixe o quanto ele se sente molhado. Assim cada árvore derrubada, cada pedaço de papel lançado nas águas ou nas ruas torna-se para o homem um histórico criminal, homicídio culposo quando há intenção de matar, e matar a si próprio e ao próximo.
Uma vez Jesus veio à terra e até tentou ensinar sobre como “ser humano”, mas parece que não deu muito certo, ensinou a zelar pelas coisas da natureza, ensinou a amar o próximo, mas no final não entendemos nada.
Lembro-me de uma canção que sempre se ouve nos finais de anos “o futuro já começou”, talvez começou mais cedo, e nós ainda não nos preparamos para recebê-lo, com o pouco de água que nos resta, ainda assim dedicamos parte do nosso tempo para contaminar o rio. Esperança, palavra simples, humilde, mas que assume seu lugar na boca dos moradores de Caratinga. Atitude, palavra bonita só quando colocada em prática. E lá se vai o rio, e lá vão as águas, chegou em uma curva, dobrou para esquerda e sumiu, me despedi com lástimas, talvez não mais voltará.
Walber Gonçalves de Souza é professor e Edcarlos Freitas graduando em Psicologia pelo Centro Universitário de Caratinga (UNEC)

PALESTRA NA E. E. PRINCESA ISABEL


@@@@ PALESTRA NA E. E. PRINCESA ISABEL @@@@
Quero agradecer a acolhida de todos da escola, foi muito bacana poder compartilhar um pouco sobre a "Diversidade cultural no Brasil". Um tema desafiante e provocante!!!!
A palestra aconteceu no dia 16 de novembro.





Artigo Jornal

REPÚBLICA DE LAMA
Artigo publicado no Jornal Diario de Caratinga (17/11)



15 de novembro de 1889, o Império comandado por D. Pedro II não suportou a pressão política imposta pelos seus adversários e através de um plano desenvolvido por várias correntes de opositores e transfigurado em forma de golpe militar, inicia-se o período republicano da história do Brasil.
Nestes 126 anos de república vários fatos poderiam ser citados para caracterizarem este longo período. Passado pouco mais de um século do fim do Império ainda assistimos o engatinhar de um país que tenta encontrar os rumos de uma nação republicana.
O fato ocorrido recentemente em Mariana, mas que ainda se arrasta pelo leito do Rio Doce cortando uma série de cidades, permite-nos uma reflexão sobre a nossa república. Simboliza com perfeição o que vem se tornado dia após dia a República Federativa do Brasil.
Desde o início do ciclo do ouro quando o Brasil ainda era colônia de Portugal, a mineração sempre atendeu a interesses particulares. Os senhores que se afortunaram com o ouro das Minas Gerais nunca passaram de uma “meia dúzia” de pessoas. E desde aquela época o meio ambiente, as pessoas mais simples nunca foram sequer percebidas. Pelo contrário, sempre tratadas com descaso. Mas o nosso assunto é a república! E o que mudou com a Vale agora Samarco? Nada, os interesses são os mesmos, os que lucram são os mesmos (a “meia dúzia”) e a grande maioria, literalmente está na lama. Sendo relegada ao nada!
Mas não seria uma atitude irresponsável depositar toda a culpa somente na Samarco, que é uma empresa de capital misto (privado e governamental)? Acredito que sim! Ela é a responsável direta pelo empreendimento e deve arcar com toda a sua responsabilidade, que olhando pelo viés financeiro, para ela não é absolutamente nada. Mas olhar só financeiramente é muito pouco quando estamos falando de pessoas, aí meu caro leitor, não haverá preço que poderá pagar a dor, o sofrimento, as perdas de entes queridos e tudo mais que está envolto nesta tragédia.
Agora, penso ser enganoso depositar somente na empresa a responsabilidade pelo acontecido, acredito que vários outros fatores colaboraram tão decisivamente para que aquela barragem de lama estourasse e se transformasse nesta catástrofe que estamos vivenciado ao longo do percurso do assassinado Rio doce.
E que fatores são estes?
A omissão do Estado, que ao longo dos anos faz vista grossa para os problemas que não lhe interessa resolver de fato. Finge não ver os problemas em troca de apoio (dinheiro) para o financiamento de campanha eleitoral. Basta verificar que a empresa é doadora de elevados recursos para inúmeras campanhas.
A negligência das autarquias responsáveis pelo setor. Onde estão os órgãos fiscalizadores? Por que eles não atuaram como deveriam? Por que prevaricaram? Se omitiram? Silenciaram? Teoricamente todo empreendimento da dimensão da Samarco deveria ter uma série de documentos, relatórios, análises de impactos ambientais e sociais que tratam de todas as questões que envolvem a atividade por ela realizada. Não somente durante o processo, mas que resguardem futuros problemas que possam vir acontecer. Se a empresa e o Estado foram pegos de “surpresa” onde estão os documentos que deveriam ter sido feitos? Certamente foram preenchidos, carimbados, aprovados, conduzidos aos órgãos executivos, assinados; portanto passaram por todas as etapas que o protocolo exige, inclusive o da propina, o da corrupção, que faz com que as coisas, mesmo estando erradas caminhem como se estivessem certas. Na esperança de que nada imprevisto ocorrerá.
Enquanto o interesse particular ou de grupos que fazem de tudo para manter-se no poder for maior que o interesse coletivo, podemos ter certeza que outras tragédias virão, da mesma forma que sabemos que esta não foi a primeira da nossa história.
126 anos de República! 126 anos de República da Lama, pois a grande maioria de nós sempre esteve atolada nela, pena que agora, infelizmente, de forma literal. Os males dos bastidores da república infiltraram-se nas salas e antessalas das empresas, em diversas contas bancárias espalhadas pelo mundo, nas ondas dos celulares, nos crimes de colarinho branco ou colorido, nos interesses espúrios e mesquinhos daqueles que insistem em dizer que governam, tudo sem nenhum pudor ou preocupação com as pessoas que podem ser de alguma forma afetadas.
Walber Gonçalves de Souza é professor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

ATÉ QUANDO AS COISAS CONTINUARÃO ASSIM?
Todo dia é a mesma coisa. Pode ser via televisão, revista, jornal, redes sociais… Todos os dias as notícias que envolvem a vida pública da nossa cidade são as mesmas. Convivemos diariamente com desmandos e sucessivas gestões catastróficas ou que beiram a melancolia.
Basta voltar o olhar poucos anos para conseguirmos criar uma lista de vários fatos que comprovam a situação de mesmice que impera na vida pública municipal. Vamos recordar alguns destes casos: um prefeito terminou seu mandato em meio ao lixo, que representa bem o que foi sua gestão; outro mergulhado em suspeitas de envolvimento com empreiteiras, máfia da ambulância, doação irregular de terreno; os mais recentes atolados em escândalos, compras mal explicadas de terreno que deveria abrigar casas populares e fazenda particular, fraudes em licitação, merenda de qualidade inferior ao valor pago, peças de veículos a preços exorbitantes, máfia de aquisição de remédios. Até hoje ninguém explicou como realmente funciona a dita cooperativa que movimenta o transporte da prefeitura, mas que já está mais que evidente que movimenta milhões aparentemente “sem destino”; obras algumas paralisadas, outras construídas com qualidade duvidosa e com clara percepção, em todas elas, de existir superfaturamento, falta de transparência, dinheiro entregue para vereadores com direito a filmagem e tudo mais, chantagem nos bastidores como forma de barganha de interesses particulares, reforma de carro que nunca existiu; refiro-me diretamente ao carro da Câmara, sem falar na mais evidente e escancarada falta de compromisso com os interesses da sociedade manifestada através da omissão, negligência, prevaricação, corrupção e assim vai.
E o resultado de tudo isto? Todo dia é a mesma coisa. Basta observarmos que nada efetivamente acontece. A clareza da impunidade fica estampada no sorriso de cada um dos personagens que dia a dia envolvem-se nestas intermináveis situações.  Estão todos por aí, sendo vistos pelas ruas da cidade distribuindo abraços e tapinhas nas costas como se nada, absolutamente nada tivesse acontecido.
E o resultado de tudo isto? Todo dia é a mesma coisa. Uma cidade paralisada no tempo que está se acostumando a ser mal gerida. Ano após ano os problemas se repetem, as promessas também e muito pouco é feito no sentido de reverter, de fato, todo este cenário.
E o resultado de tudo isto? Todo dia é a mesma coisa. Uma sociedade desanimada com o rumo do próprio destino, sem sonhos, sem esperança, sem força, sem coragem. Como diria Raul Seixas, estamos todos “com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”.
E o resultado de tudo isto? Todo dia é a mesma coisa. O sujo fala e acusa o mal lavado, que é julgado pelo porcalhão. E para não perderem a lavagem organizam a divisão do chiqueiro, da forma mais lamacenta possível e assim continuam com as suas atividades imundas.
E o resultado de tudo isto? Todo dia é a mesma coisa. Os poucos que levantam suas vozes acabam tendo suas imagens ofuscadas ou até mesmo confundidas como se todos fossem iguais. E aqueles que deveriam separar o joio do trigo, que é cada um de nós, se esquecem da sua importante e decisiva participação, pois não acreditam mais no processo, na regra do jogo, que são as nossas leis e todo o funcionamento do aparato do Estado, estruturalmente e hierarquicamente organizado.
Uma coisa é certa: não da mais para continuar assim. As coisas precisam mudar, tomar novos rumos. Está na hora de fazer o que é preciso ser feito, o essencial, o primordial. Não temos mais tempo para perder, para esperar. Chega de lermos, ouvirmos, presenciarmos sempre as mesmas notícias, queremos páginas novas, como novas manchetes. Para isto acontecer não há outro caminho, a não ser ter a coragem de tomar as atitudes necessárias. E por hora, esta atitude cabe àqueles que foram escolhidos para governar. Pois esta é a função à eles delegadas.
Coronelismo, corporativismo, amadorismo, apadrinhamento eleitoral, irresponsabilidade são adjetivos que não combinam com uma gestão moderna e eficaz. Enquanto estas forem as características dos nossos gestores a lista iniciada no início deste texto nunca parará de crescer.
Portanto, até quando as coisas continuarão assim?
Walber Gonçalves de Souza é professor. (Artigo publicado no Jornal Diário de Caratinga)

sábado, 31 de outubro de 2015

Matéria no Jornal

Matéria no Jornal Diário de Caratinga sobre a VII SIPAT da UNEC no qual ministrei uma palestra sobre a "Qualidade de vida no trabalho".


terça-feira, 27 de outubro de 2015

ARTIGO DE OPINIÃO

CRENÇAS E ATITUDES: A TEOLOGIA DA CONVENIÊNCIA
Artigo publicado hoje no Jornal Diario de Caratinga.

A religiosidade é uma das marcas de qualquer povo. Desde sempre o ser humano convive com crenças em “seres superiores”. Ao longo da história observamos a formação de diversos grupos, que partilham da mesma forma de crer. Alguns destes grupos são minoritários, pouco conhecidos, outros estão praticamente presentes ou são reconhecidos no mundo todo; destaco os muçulmanos, islâmicos e cristãos.
Desde a antiguidade verificamos esta relação humano e divino. Entre os povos gregos destaque-se a mitologia que é toda envolta com esta relação; os egípcios e suas crenças nos deuses animais; os povos do oriente médio e a formação da religião judaica, contada através do antigo testamento; e o próprio cristianismo que se desenvolveu dentro dos domínios do Império Romano. Algum tempo depois, Maomé dá origem ao islamismo e Lutero à primeira e radical divisão dos cristãos ao formar, à época, o protestantismo, as denominadas igrejas evangélicas. E todas elas de uma forma ou outra vêm reinventando-se até os dias atuais. O número de templos aumenta, os rituais diversificam-se, os líderes multiplicam-se…
Em Caratinga, conhecida como uma cidade religiosa, praticamente a totalidade da população diz ser cristã, que se divide entre católicos e evangélicos. Como é de conhecimento de todos, o livro sagrado dos cristãos é a Bíblia. Entretanto há uma pequena diferença entre a Bíblia católica e a Bíblia evangélica, alguns textos marcam esta diferença.
Fazendo uma comparação entre todas elas percebemos que existem algumas importantes semelhanças. E a principal delas sem sombra de dúvidas é que devemos amar Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Um mandamento maravilhoso com um desdobramento humano fantástico. No papel parece ser algo fácil de realizar, mas pelo que está acontecendo de fato, parece que não aprendemos bem esta lição.
Nietzsche, um dos mais famosos filósofos da humanidade chegou a afirmar que o ser humano matou Deus. Por conveniência humana acabou sendo mal interpretado e bastante criticado. Agora, cada coisa que é feita em nome de Deus por todas as religiões, que às vezes me pego pensando… será que Deus quer que façamos isto mesmo em nome Dele? Matamos em nome Dele; excluímos em nome Dele; discriminamos em nome Dele. São tantos exemplos que vivenciamos dia-a-dia que daria para escrever uma enciclopédia infinita de exemplos. Como sou um nada, quem sou eu para chegar a alguma resposta. Pode ser que eu esteja enganado.
Dito tudo isto, voltemos para aquilo que atualmente vem nos afligindo: a falta d’água.
Ao longo de muitos anos, preferimos continuar “comendo a maça”, isto é, estragar o paraíso. Não cuidamos das nossas matas, preferimos o desmatamento; não cuidamos das nossas nascentes e rios; acreditamos que o fogo é o melhor método para se “limpar” uma área; poluímos o ar; sujamos o ambiente, com todo tipo de lixo e entulho; enfim, preferimos continuar com o hábito de poluir, de detonar o paraíso.
E além de tudo, quando acontece alguma coisa, colocamos a culpa em Deus. Como se a responsabilidade pelas nossas atitudes fosse Dele. Pois assim fica tudo sempre mais cômodo. E logo em seguida em forma de desespero, como seres perdidos, começamos a rezar, orar… pedindo um milagre. Não duvido de milagres, mas até quando viveremos pedindo milagres?!
Tornou mais fácil para o ser humano transferir para Deus as responsabilidades que são nossas. Imagine um pai/mãe que doa tudo para os seus filhos e ainda em vida vê seus filhos perdendo tudo de uma forma irresponsável e desregrada. Acredito que nenhum pai/mãe quer vivenciar uma coisa dessas, pois com certeza gera angústia, sofrimento. Mas é justamente isto que estamos fazendo, a humanidade ganhou tudo, está estragando tudo e ainda quer por a culpa em quem tudo fez. Pregando para todos os cantos um Deus vingativo, rancoroso, um Pai que vive punindo seus filhos. O Deus que ama, que acolhe, que gera mudanças de atitude ficou esquecido. É inacreditável o que estamos fazendo!
Nossas crenças devem fortalecer as mudanças de atitudes. “A fé sem obras é morta!”. Sabemos o que devemos fazer para mudarmos este quadro desolador: cuidar do nosso habitat, da nossa grande casa chamada Terra. Reclamar, ficar de braços cruzadas e continuar transferindo a responsabilidade não vai resolver nada. Chegou a hora da atitude, da ação. Nossa crença não pode ser mesquinha ao ponto de nos afastar das nossas responsabilidades enquanto pessoa, enquanto filhos de Deus.

PALESTRA



Palestra ministrada na tarde do dia 26 de outubro na UNEC 
sobre "Qualidade de vida no trabalho", no VII SIPAT.

    

ARTIGO DE OPINIÃO

A COVARDIA DOS GESTORES PÚBLICOS
Artigo publicado 20/10) no Jornal Diario de Caratinga.

Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando observamos que todos os governos acabam herdando uma série de problemas dos governos que os antecederam; transformando-se numa aparente “bola de neve” que a cada dia aumenta mais agravando os problemas. Assim, de quatro em quatro anos ouvimos sempre as mesmas promessas acompanhadas das mesmas desculpas e justificativas.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando observamos que todos os governos prometem acabar com a corrupção, mas acabam fazendo a mesma coisa que condenaram. Aparece um escândalo aqui, outro ali, uma nota superfaturada aqui, petróleo vazando ali, trocas de favores aqui, compra de voto ali. Assim, de quatro em quatro anos vamos nos afundando em um mar de lamas da sujeira humana.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando observamos que as pessoas que deveriam cuidar dos bens públicos são os primeiros a saquear os cofres do cidadão.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando as prioridades não são consideradas prioridades. Na fala sim, mas na ação não. A escola não funciona, sua educação é analfabeta, a saúde está doente, os presídios não cumprem o seu papel de reabilitar, percebe-se que as instituições estão falidas, não conseguem cumprir o seu papel.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando a politicagem ocupa o lugar da política, pois o bem comum não é a regra do jogo. As picuinhas tornam-se maiores que as necessidades. O diálogo de ideias e posicionamentos perde o lugar para a discussão desenfreada e mal-educada, transformada em bate-boca.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando as pessoas erradas ocupam os lugares estratégicos. Como uma pessoa que não entende nada ou quase nada de uma determinada área pode ocupar a função de líder daquele segmento. A não ser para fazer parte desta ciranda politiqueira que está enraizada em toda a nação.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando falta criatividade, ousadia, coragem, espírito republicano, ser visionário, ficando preso sempre naquela velha fórmula: aqui as coisas funcionam assim, não mudam.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando se verifica uma gigantesca falta de compaixão dos nossos gestores. Pois pelo visto até hoje eles não perceberam que devido às suas faltas de ações estamos mergulhados em uma cidade, em um país, em que as mazelas humanas saltam aos olhos e estão aí, em todos os cantos para todo mundo ver.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando se constata o tamanho da covardia dos nossos gestores, da frieza com que conduzem os rumos da nossa vida política. Não consigo acreditar que seus atos monstruosos de corrupção são atos impensados; não consigo acreditar que eles não sabem que corrompendo estão gerando todos os nossos problemas. Que a saúde, educação, transporte, cultura, lazer… são o que são, portanto, de péssima qualidade porque o dinheiro que deveria ser aplicado em cada um destes setores é desviado para fins particulares.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando não se quer resolver os problemas. Nossos gestores dão a entender que não pensam, não buscam soluções, ficam presos às burocracias do sistema. Não procuram alternativas, transmitem uma imagem que aceitam passivamente as coisas como elas se mostram.
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando o tempo passa e não são apresentados projetos, sugestões por aqueles que deveriam conduzir os rumos da vida pública. Quantos projetos foram apresentados na esfera municipal que contribuíram significativamente para o desenvolvimento do município? Ou ajudaram, de alguma forma, elucidar soluções para os nossos intermináveis problemas? Caso este escritor esteja enganado, ficarei imensamente feliz!
Governar não deve ser uma tarefa fácil. Ainda mais quando o sonho por dias melhores parece ter desaparecido. Sendo guiados pela mentira, pelo descaso, pela falta de caráter, pelo jeitinho brasileiro, pelo toma lá da cá… resta-nos viver mais infinitos anos na mesma situação em que nos encontramos.
A covardia dos gestores públicos deve ser substituída pela ousadia, coragem e compaixão, caso contrário governar nunca será uma tarefa fácil.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

FALTA ÁGUA: TRAGÉDIA ANUNCIADA
Artigo publicado no Jornal Diário de Caratinga no dia 06/10

De segunda à sexta todas as manhãs era sempre a mesma coisa, por volta de 6:15h saía do Bairro Limoeiro, mais precisamente da Rua Dr. Breno Mourão e caminhava até as dependências da Escola Estadual José Augusto Ferreira, mais conhecida como Escola Estadual. De 1991 à 1993 cursei o segundo grau, hoje correspondente ao ensino médio.
                
Das minhas lembranças de estudante, ainda desta época, poucas são as coisas que afloram na minha memória sobre temas ligados ao meio ambiente. Estudávamos sobre muitas coisas, mas aulas com temas voltados para a preservação ambiental, com o cuidado que devíamos ter com o nosso planeta eram raras.
                 
Mas em 1992 aconteceu um fato que marcou e ao mesmo tempo mudou a percepção que as pessoas tinham sobre as questões ambientais. Na cidade do Rio de Janeiro aconteceu uma Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, que ficou conhecida como ECO-92. A partir deste evento as ações envolvendo a educação ambiental começavam a fazer parte do contexto escolar.
                
O futuro do planeta começava a ser discutido, os problemas ambientais também. Duas correntes lideravam os debates, uma defendia que os problemas ambientais eram consequências das ações predatórias do ser humano e a outra que tudo não passa de um ciclo natural da própria natureza, que o ser humano pouco ou nada interfere. De vaga memória lembro que naquele momento falava-se mais sobre a destruição da camada de ozônio, e por consequência do aquecimento global, o derretimento das geleiras e  as mudanças climáticas.
                
Mas um assunto não ficou esquecido, e também fez parte da pauta da ECO-92, a questão da água. Alguns especialistas previam os problemas que a humanidade enfrentaria decorrentes do desequilíbrio momentâneo do ciclo das águas. Resumindo, de acordo com eles em futuro não muito distante milhares de pessoas no mundo enfrentariam a escassez de água.
                
Soluções foram apontadas, entre elas, a diminuição de emissão de gases poluentes, o plantio de árvores, a criação de leis ambientais e uma série de outras pequenas ações que resultariam na preservação ambiental, no cuidado com a Terra.
                
O tempo foi passando, e os debates intensificaram-se. Em meio às discussões a realidade, uma catástrofe aqui outra ali. Gente morrendo de sede aqui, outras de fome acolá. Nascentes secando aqui, rios desaparecendo acolá. E de fato o que está sendo feito na tentativa de pelo menos amenizar o problema? Pelo visto muito pouco.
                
E agora chegou a nossa vez, nossa Caratinga está enfrentando a escassez de água. Começou na semana passada o rodízio de abastecimento. Talvez muitos pensassem que nunca chegaria a nossa vez. Como telespectadores, na maioria das vezes inertes, acompanhávamos tudo que estava acontecendo ao nosso redor, através dos noticiários e comentários com amigos, mas aquela velha mentalidade permanecia, comigo não vai acontecer, só com o outro. Nossa cidade não, somente as outras!
                
Independente de quem tinha razão nos debates sobre as causas dos problemas ambientais, perante a dúvida não fizemos nada. Não cuidamos das nossas nascentes, dos nossos rios, não reflorestamos, ficamos mais presos na bela teoria ambientalista do que nas ações significativas e concretas que realmente poderiam de alguma forma amenizar os problemas.
                
Nestes anos todos muitas vozes se levantaram e tentaram colocar em evidência a questão. Mas como são anônimos, despercebidos pela maioria da sociedade, não tiveram a atenção merecida. Aqueles que deveriam zelar, devido às suas atribuições administrativas e de gestão, pelo visto preferiram como sempre a omissão, ou o conforto da conveniência.
                
E como sempre, usando do ditado popular "quem paga o pato" é a população, os mais carentes e desprovidos de qualquer atenção.
               
A tragédia ano após ano estava sendo anunciada. Muitas coisas poderiam ter sido realizadas de fato. Chorar não adianta, a realidade está ai. Temos dois caminhos, ou continuamos de braços cruzados ou arregaçamos as mangas e comecemos a fazer o que é preciso. E isto nós já sabemos só nos falta executar, mas executar de verdade, sem as aparências enganosas que fingem resolver mas mantêm o problema. Chega de faz de contas!


Walber Gonçalves de Souza é professor. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ÁGUIA OU GALINHA: O QUE SOMOS?
Artigo publicado (29/09) no Jornal Diário de Caratinga.

As metáforas, analogias, contos, parábolas… são formas muito interessantes de tentar de alguma forma expressar o conhecimento, de provocar a reflexão. Um dos livros mais conhecidos da humanidade, a Bíblia, é recheada destas formas de linguagem.
Logo a seguir leremos um mito que foi contado, por um líder político, durante a luta pelo processo de libertação do seu país. A partir da vida de dois animais, foi elaborada uma metáfora sobre a condição da vida humana. De como agimos, pensamos e vivenciamos a vida. O mito é o seguinte:
“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
– Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
– De fato – respondeu o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar de asas de quase três metros de extensão.
– Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
– No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
– Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra. Abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico Kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais alto. Voou… voou… até confundir-se com o azul do firmamento…”
Estamos vivendo coletivamente um momento delicado, podemos nos perguntar a todo instante: somos águias ou galinhas? Vivemos como águias ou como galinhas? Devemos olhar-nos a todo o momento e discernir as razões existentes que tentam nos manter como galinhas, e ao mesmo tempo acreditar que é possível despertar a águia que existe em cada um de nós! Feito isto será um importante passo que daremos para a construção da sociedade que sonhamos.
Walber Gonçalves de Souza é professor.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Trabalho de campo em Ouro Preto

Com base nos seus conhecimentos, estudos e pesquisas 
elabore um texto respondendo a seguinte questão: 
Qual a importância cultural, econômica, social... de Ouro Preto para o Brasil? 
Seu texto deverá ter no mínimo 5 linhas digitadas. Bom trabalho!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

POR QUE O CONHECIMENTO TRANSFORMA A VIDA?
Artigo publicado no dia 22/09 no Jornal Diário de Caratinga.

O século XXI para muitos é considerado o século do conhecimento. Nunca na história deste país, acredito que todos já tenham ouvido esta frase, o conhecimento esteve tão acessível. Basta querer conhecer!
Não afirmo isto pensando somente nas possibilidades que a internet nos proporciona; as quais são infinitas, pois sabemos que ela é nos dias atuais um dos meios mais usados pelas pessoas como fonte de conhecimento. Mas refiro-me também à popularização de uma série de outros meios, como os diversos canais de televisão, disponíveis para os mais variados gostos, as bancas de jornal repletas de intermináveis tipos de revistas, e outra coisa que boa parte das pessoas apostaria que iria acabar, mas por incrível que possa parecer, a cada ano está crescendo mais, a publicação de vários livros, que atende também a todos os públicos com gêneros literários de indizíveis estilos e tudo isto com uma característica em comum, a variação de preço que se torna acessível à todos os interessados pelos saberes.
Agora, uma pergunta poderia surgir em meio a esta realidade: por que, na sociedade que vive na era da informação, sentimos uma sensação de estarmos vivendo em uma selva, como diria o filósofo Hobbes, o homem sendo o lobo do próprio homem? Um paradoxo estranho, esquisito e difícil de entender.
Assim percebemos que só conhecer não é o suficiente. Às vezes digo para os meus alunos, o conhecimento deve servir para sermos um profissional melhor, deve servir para vivermos bem, deve servir para termos uma vida financeira saudável, deve servir para adquirimos saberes, deve servir para ampliar nossa cultura, deve servir para tantas coisas… mas elas só terão realmente valor e importância, se o conhecimento, antes de qualquer coisa seja útil para que cada um de nós se torne um ser humano melhor. E é justamente aí que está a espinha dorsal de todas as outras conquistas. Caso contrário poderemos ter tudo, mas nunca seremos nada.
Verificamos neste contexto o desafio do terceiro milênio, continuar ampliando e fornecendo informações, conhecimentos, mas ao mesmo tempo, proporcionar o desenvolvimento da maturidade, dos valores essencialmente humanos que serão as colunas de sustentação dos saberes, do conhecimento.
Os mestres do pensamento, os grandes filósofos da humanidade já alertavam para esta situação há séculos. Sócrates, Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Santo Agostinho… ancoraram todas as suas ideias não somente na construção do conhecimento, mas na forma como ele é empregado, valorizado e vivenciado pelas pessoas.
Eles alertavam também sobre o perigo do conhecimento quando ele é manipulado para atender a interesses escusos de pequenos grupos, levando o indivíduo ao processo de alienação ou defesa cega de ideologias. Identificaram estas pessoas como sofistas, pois usavam do conhecimento, da palavra, para enganar, ludibriar as pessoas.
O conhecimento transforma a vida quando acreditamos e temos consciência dele. Se sei alguma coisa sobre algum assunto, mas não acredito no que sei, não vejo sentido naquilo, portanto o conhecimento adquirido estará simplesmente ocupando uma parte do nosso cérebro e nada mais. Por isso sabemos de tantas coisas e no dia a dia observamos poucas e lentas mudanças. Para ilustrar, cito exemplos banais do nosso cotidiano, sabemos a hora da coleta de lixo, mas continuamos mantendo o hábito de colocar o nosso lixo na calçada a qualquer momento; sabemos que conversas paralelas em sala de aula ou ambiente de conferência atrapalham, mas insistimos nos cochichos com o colega mais perto; sabemos que o mosquito da dengue prolifera em ambientes com água parada, mas deixamos nosso quintal sujo, a calha sem manutenção; sabemos que açúcar e sal em excesso é super danoso à saúde, mas mantemos hábitos alimentares carregados destes ingredientes; sabemos que é preciso fazer exercícios físicos, mas preferimos uma vida mais sedentária… imagine quantos exemplos poderiam ser descritos aqui.
O conhecimento é o caminho que trilhamos para melhorar a nossa vida. Mas acredite no conhecimento que é adquirido, senão o risco de se tornar inócuo será muito provável e assim nenhum esforço valerá a pena, nada adiantará. Lembrando Fernando Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”; isto é, de nada adianta se o conhecimento é grande se a alma não se transforma através dele.
Walber Gonçalves de Souza é professor.