quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Artigo de Opinião

SEMPRE TEMOS UMA BOA JUSTIFICATIVA PARA CONTINUARMOS OS MESMOS


Para muitos pesquisadores nós brasileiros somos merecedores de um profundo estudo. Decifrar a nossa personalidade coletiva é uma missão que beira o impossível, pois além do famoso “jeitinho brasileiro” que nos é bem peculiar e conhecido por todos, acrescentaria uma outra característica que se enraíza cada vez mais na nossa sociedade que é a nossa imensa capacidade de inventarmos sempre uma boa justificativa para tudo.
Todavia, essa capacidade de justificativa serve única e exclusivamente para permanecermos os mesmos. Dela não brota nada que direciona a uma nova tomada de postura. Justificamos tudo para não mudarmos nada.
Sempre temos uma justificativa na ponta da língua que acompanha e explica a nossa inércia frente aos diversos aspectos da vida em sociedade. Somos geniais na arte de inventar justificativas e desculpas.
Só que essa “genialidade inventiva” nos cega, não permite que evoluamos nas questões sociais. Justificar por justificar cria uma sensação de que as coisas não precisam encontrar uma outra solução. E assim vamos nos atolando nos nossos velhos dilemas que se perpetuam na nossa sociedade.
Não estudamos e sempre colocamos a culpa no colega que não para de cutucar ou falar; não lemos e dizemos que o livro é caro; colocamos o lixo para coleta em qualquer horário pois o vizinho assim o faz; não respeito à lei pois ninguém respeita; quero ser sempre o primeiro, pois aprendi que o mundo é dos espertos; e assim, entre milhares de outros exemplos, vamos construindo nossa sociedade.
Por isso é tão comum usarmos os outros para escondermos nossos atos. Quem nunca disse ou ouviu aquela velha máxima: “como todo mundo faz eu também faço”?!  “E assim começamos a justificar (nossos erros). E uma vez que você justifica algo, você pode fazer isso de novo e de novo. Torna-se mais fácil. O certo e o errado se confundem”.
Claro que tudo é explicável, mas a questão não é essa, nossas justificativas não são usadas para corrigir ou mudar as coisas, muito pelo contrário, são usadas simplesmente para justificarem o porquê de não fazermos as coisas, como se isso fosse o ideal. Com a justificativa mantemos a convicção de que estamos certos, mesmo tendo plena consciência do contrário.
Portanto, se queremos eliminar, acabar com os nossos males sociais, devemos ter a coragem de parar de justificar nossos erros. Nossos defeitos precisam ser encarados e dentro do possível eliminados. E tudo é uma questão de hábito.
Enquanto a nossa mentalidade estiver focada na criação de justificativas perderemos a oportunidade de corrigir nossos erros. Erros estes que nos mantêm na terrível e desumana realidade no qual se encontra o nosso país. Precisamos ter a coragem de combater o bom combate, aquele que se trava consigo mesmo.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

domingo, 18 de agosto de 2019

Artigo de opinião

POR QUE ESCONDER A TORTURA?
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Há um ditado popular que diz: “contra fato não há argumento”. Os fatos podem ser interpretados à luz das mais diversas ideologias, todavia ele continuará existindo. Mesmo sendo contado e recontado sobre diversas lógicas ele continuará presente no seu devido tempo e espaço.
Há um outro ditado popular não menos interessante que diz: “errar é humano, permanecer no erro é ignorância”. Nunca seremos seres perfeitos, nesta direção combater a autossuficiência deve ser sempre uma meta, podendo ao contrário, proporcionar o espírito da soberba ou até mesmo a insensatez de não reconhecer as próprias falhas.
Na história da humanidade podemos pinçar inúmeros exemplos destas situações. Vejamos um para ilustrar o presente texto: a inquisição foi um fato, por sinal terrível, desumano, torturante e que durante séculos a Igreja Católica se esquivou, procurou de toda maneira escamotear, apagar da memória dos seus fiéis o nefasto episódio, mas um dia a própria Igreja, dentro de uma hombridade que se espera de uma instituição religiosa reconheceu o erro e pediu desculpas pelos seus atos contra a humanidade.
Dentro desta ótica, como negar o nazismo e seu monstruoso projeto? Como negar a escravidão e suas cenas de horrores nas senzalas, nos pelourinhos, nos estupros e tantas outras atrocidades?  Como negar o genocídio cometido contra os nativos brasileiros durante o período de colonização? Enfim, como negar centenas de atrocidades cometidas contra os seres humanos em vários lugares do planeta? Por mais que existam correntes que analisam das mais variadas formas os fatos, não há como negá-los.
A ditadura no Brasil e seu mecanismo de tortura é inegavelmente uma dessas atrocidades. Não há como negar. É fato. Pode-se discutir seus motivos, propor horas de análise e discussão, mas não há como fugir da realidade: vivemos no Brasil um período tenebroso, um período em que a tortura foi uma “ferramenta” usada para se “conquistar” as confissões, depoimentos ou até mesmo fruto da covardia de quem detinha o poder.
Não adianta querer passar uma borracha na história, como se isto fosse possível, pois os fatos estão lá, são atemporais, mas precisam ser contextualizadas, refletidos e deles se tirarem as devidas lições, para que em muitos casos não possam ser repetidos.
Portanto, não é escondendo os problemas ou “jogando a poeira para debaixo do tapete” que iremos equacionar nossos conflitos sociais, que se justificam nas devidas questões históricas.
Ficar negando o que é público e notório nunca irá apaziguar o problema. A exemplo do que fez a Igreja Católica é preciso reconhecer o erro. Admitir que as formas usadas não foram as que deveriam. A história também é feita de erros e equívocos. Mas a evolução só acontece com reconhecimento e novas posturas para evitar que os erros se repitam.
Walber Gonçalves de Souza é escritor e professor do Centro Universitário de Caratinga.