quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Eu queria ser a doméstica do Guedes

Eu amo

Pelo que se observa pelas atitudes e palavras, nossos líderes não conhecem o povo do qual lideram ou deveriam liderar.
Recentemente o ministro Paulo Guedes insinuou que as trabalhadoras domésticas vivem em uma farra turística, viajando com certa frequência para os Estados Unidos. Pelas suas palavras acredito que ele não conhece a realidade do povo brasileiro. Talvez por ter vivido boa parte da sua vida em outras terras, ou até mesmo pela insensibilidade de quem só vive nos altos padrões de luxo, em uma bolha de alienação social.
Sei que ele quis forçar uma expressão para justificar sua análise sobre a alta do dólar, mas foi de uma total infelicidade, como diria no jargão popular, perdeu uma grande oportunidade de ficar calado.
Basta um pouco de percepção social para verificar: quem no Brasil possui condições de sair da sua própria cidade para fazer turismo? Para conhecer lugares inusitados, divertidos, praias, resorts, enfim, quem dentro da realidade socioeconômica do país pode ser considerado um turista de fato? Sei que em tese todos podemos ser, mas a realidade que bate à porta dos trabalhadores brasileiros todos os dias, apontam e forçam o contrário.
Os poucos que conseguem viajar, pelo menos uma vez por ano, fazem um esforço megaextraordinário em suas finanças, sendo até chamados de farofeiros. Lembro-me de uma vez em que o governador de um estado praiano criticou vários turistas, justamente por os considerarem farofeiros. Portanto, os mais pobres, a massa trabalhadora, para o governante estas pessoas não eram bem-vindas a seu Estado.
Quem dera se os trabalhadores brasileiros, neste caso específico representados pelas domésticas, pudessem ao menos desfrutar de um mínimo de dignidade. Somos um povo que sofre com o descaso na educação, que pode ser considerada de péssima qualidade; somos um povo doente sem uma assistência que ampara seu sofrimento. Basta visitarmos os hospitais públicos para nos depararmos com o caos em que a saúde se apresenta; somos um povo que ao receber o salário faz mágica para conseguir sobreviver.
Mas para o Guedes, isto não acontece, para ele nosso salário de fome permite fazer coisas extraordinárias. E o pior, da forma que expressou como se fosse algo proibido, como se os trabalhadores mais simples não pudessem viajar para outros países, demonstrando em suas palavras, pelo que se percebe, um sentimento preconceituoso e de desconhecimento da realidade vivida pelo brasileiro.
Portanto, eu queria ser a doméstica balbuciada pelo Guedes, quem sabe assim poderia viajar, conhecer o mundo e com o dólar alto, optar por conhecer os rincões do Brasil. O que eu não quero na verdade é ser o Guedes pois ele ainda acredita que um país rico pode ser um país que faz vista grossa e finge que a pobreza não existe.
Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A educação precisa ser a prioridade do Brasil

A imagem pode conter: Walber Souza

Artigo publicado simultaneamente nos jornais: 
Estado de Minas, Diário de Caratinga, Diário Popular, Capital News, (MS), Diário do Rio Doce, Vargem Alegre News, Folha de Babitonga (SC) e O Povo (RJ).

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A Educação precisa ser a prioridade no Brasil

O mês de fevereiro marca o retorno das atividades escolares em praticamente todo o país. O início do ano escolar faz com que a rotina das famílias e das cidades se modifique. Assim, todas as manhãs poderemos contemplar milhares de crianças e adolescentes caminhando pelas ruas rumo à escola, bem como os engarrafamentos provocados pelo tráfego de carros nas portas e ruas próximas das escolas.
Começamos, portanto, mais um ano de práticas educacionais. Mas sinceramente, a sensação que continuo tendo é que a educação ainda não é a prioridade em nosso país. Ainda não acreditamos que é através de uma educação de qualidade que poderemos reverter nossas mazelas sociais. Podemos até ter escolas, mas ainda estamos longe, muito longe, de ter educação, no sentido mais profundo do vocábulo.

Um dia desses, em uma entrevista, um governador de Estado disse, numa conotação pejorativa, que o professor é um gasto. Mas o que não seria no sentido pleno da expressão? Nossas notas nos indicadores internacionais há décadas não avançam. Nas escolas hoje em dia faz-se quase tudo, menos ciência. Não que as demais situações vividas nos ambientes escolares não sejam importantes, mas seu principal objetivo que deveria ser o avanço das descobertas científicas, pois elas promovem o desenvolvimento social e econômico do país, não são valorizadas e nem tão pouco incentivadas.
É de conhecimento público e notório, que lemos pouco ou quase nada; que somos considerados fracos nas disciplinas pilares: português e matemática; que temos um sistema educacional que não consegue avançar. Não temos uma diretriz, um norte real, toda hora as coisas mudam de ordem, se alteram sem se modificar de fato, mudam-se os nomes para se referirem às mesmas coisas, como se isso fosse a grande inovação. E com ares de tragédia grega, até hoje não teve uma edição do ENEM que não teve problemas. Esse é o nosso Brasil!
E assim, a educação finge que é feita em nosso país. E assim, as pessoas fingem que estão estudando. E assim, os governos propagam seus feitos com ares de grandiosidade. E o que de fato interessa fica renegado ao último plano: educação de qualidade. Queremos escolas, diplomas, formaturas, índices, mas ainda, dizemos não ao ato de aprender. E quem quer o contrário, que não são muitos, vê-se remando contra a maré.
Parece chover no molhado, defender sempre a mesma bandeira, mas enquanto no Brasil, através dos seus gestores, não se promover uma educação que provoque alterações significativas nas entranhas sociais, ela continuará como sempre foi, servindo aos interesses de poucos. Uma “educação” que perpetua o desnível social, cultural e econômico, mesmo propagando o contrário. Precisamos urgentemente avançar, educação já!
(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.