quinta-feira, 23 de julho de 2015

Reforma Humana

Reforma. Ultimamente esta é uma das palavras mais pronunciadas nos meios de comunicação do nosso país. Vira e mexe ela está sendo balbuciada por alguém. Travam intermináveis discussões a respeito da Reforma Política, da Reforma Previdenciária, da Reforma Econômica, da Reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da Reforma Trabalhista, da Reforma do Judiciário… são tantas reformas que levam a crer que está tudo completamente estragado, paralisado… precisando, portanto, ser refeito.
Mas em meio a toda esta discussão parece que o pivô central de todas as reformas, que é o próprio ser humano, está esquivando-se das suas responsabilidades e como sempre delegando ao “sistema” (que precisa substituído e não reformado) a totalidade da culpa dos nossos fracassos nacionais. A principal reforma que precisamos passar é a Reforma Humana, estamos precisando a aprender a ser gente.
Voltando um pouquinho na história da humanidade, veremos no passado semelhanças, alguns exemplos, das mesmas situações, observando a essência das coisas, que acontecem até hoje e que foi mencionado no parágrafo anterior.
Um dos maiores impérios da humanidade, o Império Romano, é caracterizado por uma atitude muito simples que colocaram em prática, dividiram a população em dois grupos: existia o povo romano, que merecia todas as glórias, e o povo bárbaro, que eram todos aqueles que não eram romanos, independente de onde eram e de como viviam, estes mereciam ser perseguidos, se fosse preciso escravizados… eram vistos como segunda categoria de gente.
Uma das maiores religiões ocidentais, infelizmente, cresceu fazendo a mesma coisa, dividindo as pessoas em dois grupos: católicos e não católicos. Os primeiros dignos de todas as benesses divinas e os segundos, pessoas consideradas desalmadas, ditas como bruxas, merecedoras das chamas da inquisição e de todos os estragos provocados pelas Cruzadas. Nos dias atuais estamos presenciando o movimento ao contrário, os que foram perseguidos hoje perseguem. A semente do encalço parece ter germinado e os frutos estão aí, vistos todos os dias nos noticiários.
Com o processo de expansão dos povos europeus, a partir das grandes navegações, não é que a história se repete. Os europeus consideravam-se civilizados, avançados… e todos os povos que foram “conquistados”, “descobertos”, foram considerados por eles “raças inferiores”. E a justificativa: vivam de uma forma diferente, eram seres sem alma… Houve um período que os nativos, das diversas regiões do planeta, foram vistos e tratados como animais.
Terceiro milênio, a dicotomia continua. Separamos as pessoas em indivíduos da esquerda e da direita; sujeitos homoafetivos e heterossexuais; católicos e protestantes; islâmicos e cristãos; rurais e urbanos; intelectuais e analfabetos; ricos e pobres; negros e brancos… e o que é mais importante vai ficando de lado: a “Reforma Humana”.
Ao analisar o passado verificamos que ao defender “bandeiras”, modelos, milhares de pessoas foram exterminadas, excluídas. Independente se estas pessoas eram boas ou ruins, honestas ou desonestas, justas ou injustas… o jeito dominador de ser impera(va) e ponto final.
Mas afinal de contas o que seria a reforma humana? Significa começar a enxergar os valores que realmente interessa. E os valores são, honestidade, sensatez, hombridade, zelo, caráter, sensibilidade… E isto não tem relativismo. Significa valorizar o mérito; significa valorizar a pessoa além das suas crenças, credos, gostos e jeitos; significa perceber o outro como gente; significa ter atitude de gente; significa acreditar que ainda é possível construir uma sociedade, mais justa e fraterna.
O que adianta uma pessoa ser branca ou negra, católica ou protestante, homo ou hetero, letrada ou analfabeta, ser filiada neste ou naquele partido… se suas atitudes são preconceituosas, discriminatórias, malfazejas, injustas, corruptas… desumanas. Acabará colaborando com todas as mazelas da sociedade.
Imaginemos agora o contrário, independente se a pessoa for branca ou negra, católica ou protestante, homo ou hetero, letrada ou analfabeta, ser filiada neste ou naquele partido… se ela pratica a caridade, a justiça, cuida do bem comum, valoriza as pessoas, cultiva os valores humanos… não seria maravilhoso! Estará colaborando, com toda a certeza, para uma sociedade equilibrada, justa… digna da vida humana.
Todas as outras reformas só darão certo quando o ser humano der certo. Quando conseguir sair do casulo, da máscara… como diria Platão, da caverna. Quando permitir-se atravessar os ritos da metamorfose ambulante. Quando deixar de a qualquer preço, defender bandeiras, estereótipos… convicções que desumanizam. Caso contrário, ficaremos eternamente secando gelo e nunca veremos nossos intermináveis problemas começarem a ser resolvidos. Já passou da hora de valorizarmos o que realmente interessa!
Walber Gonçalves de Souza
(Artigo publicado no jornal Diário de Caratinga, no dia 21/07)

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