terça-feira, 28 de julho de 2015

ZELADORES DA ALEGRIA

Como diria alguns amigos meus, em tom de brincadeira, mas ao mesmo tempo querendo dar uma alfinetada, a única vantagem de ser professor é que se têm duas férias por ano. O pior é que eles não estão muito enganados! Mas vivenciando então, desta minha vantagem, o recesso deste mês de julho, aproveito para dar uma caminhada descompromissada pelas ruas de Caratinga, assim vou observando o ritmo das coisas, encontrando alguns amigos e colocando a prosa em dia.

Entre os vários encontros, um deles aconteceu próximo ao viaduto que liga o centro ao Bairro Santa Zita. Por coincidência, justamente no momento em que trocava alguns minutos de conversa com um amigo, quase presenciamos mais um atropelamento, motivada pela travessia dos transeuntes pela BR-116, a popular Rio-Bahia. Nossos olhares foram sugados pelas ondas da buzina que de alguma forma conseguiu evitar a colisão.
Que esta questão é crônica em Caratinga, todos nós já sabemos, constantemente este assunto está em voga e em muitos casos com final triste, pois vários óbitos são frutos deste problema. O que precisa ser feito, também já é do conhecimento de todos, construir algumas passarelas no percurso urbano da rodovia. Esta medida faria os índices de acidentes diminuírem consideravelmente.
Mas em meio a esta confusão, alguém poderia levantar uma questão. Em outros trechos da cidade, acidente deste tipo é mais comum acontecer, justamente pelo fato de não existir nenhum meio para evitá-lo, a não ser a atenção no processo de travessia. Agora, próximo ao viaduto não deveria acontecer, justamente por causa do acesso que existe no lugar. E realmente é um ponto a ser discutido, pois tem razão de ser.
Dizem que o hábito de fumar cachimbo deixa a boca torta. Os moradores do Bairro Santa Zita, com raríssimas exceções, acostumaram a atravessar a rodovia, caminhando pelas pistas, colocando suas próprias vidas em perigo. A justificativa para tal procedimento seria o caminho mais curto e o tempo gasto, acredita-se que se ganha tempo.
Mas algo precisa ser feito. Algumas medidas precisam ser tomadas. Esta situação não pode continuar da mesma forma. A primeira delas é tornar o acesso uma realidade. As pessoas precisam enxergar e perceber que ao usar este meio, estará dando segurança para si próprio.
E o que pode ser feito para aflorar na população o gosto por esta “nova” forma de travessia? Primeiramente, acredito que deveria ser reestruturado o local, deixá-lo mais acessível. Como? O ambiente deveria mais iluminado, provoca uma sensação de mais segurança, pois durante a noite, a penumbra do local o leva a ser usado para outros fins, espantando as pessoas de trafegar por lá; implantar corrimão, colaboraria com as pessoas que possuem alguma necessidade especial, bem como os idosos que necessitam de um meio de apoio… enfim, pensar uma forma de deixar o local atraente, bonito, aconchegante, chamativo.
Mas acredito, que somente isto não será o suficiente. Mesmo estando tudo atrativamente perfeito, muitos continuaram atravessando pela pista. É preciso também incentivar a mudança de hábito das pessoas que passam pelo local. E ai talvez esteja a missão mais difícil. Neste sentido, é que se faz necessário o papel dos “Zeladores da Alegria”. A ideia não é original, mas se encaixa perfeitamente na questão em pauta.
Nossa cidade conta com um bom número de pessoas que dedicam suas vidas em projetos de artes cênicas, muitos destes projetos são de cunho social e educativo. Se não estou enganando, em algumas igrejas evangélicas, estes grupos são muito presentes.
Os Zeladores da Alegria seriam, portanto, grupos, devidamente credenciados e apoiados, pelos órgãos competentes, para colaborar com este processo de criação de uma nova percepção de uso da cidade. Penso, que até financeiramente seria mais viável. Prevenir é sempre mais barato e eficaz. Escolher-se-ia os locais mais críticos, de maior demanda, os grupos criariam as formas de intervenção, provavelmente, com um caráter bem lúdico e chamativo.
Muitos pontos da cidade poderiam ganhar esta ajuda. Em locais de faixa de pedestre, carros querendo parar em locais impróprios, ciclistas trafegando em locais impróprios, como calçadas, cidadãos andando pelas ruas… Enfim, situações que não faltam.
Terminada esta empreitada, outras campanhas educativas, com certeza aparecerão. Assim, estaríamos construindo uma sociedade melhor, uma cidade melhor para se viver, onde teremos menos lágrimas e mais sorrisos.

Walber Gonçalves de Souza é professor.
(Artigo publicado no Jornal Diário de Caratinga - 28/07)

Nenhum comentário:

Postar um comentário