FALTA ÁGUA: TRAGÉDIA ANUNCIADA
Artigo publicado no Jornal Diário de Caratinga no dia 06/10
De segunda à sexta todas as manhãs era sempre a mesma coisa,
por volta de 6:15h saía do Bairro Limoeiro, mais precisamente da Rua Dr. Breno
Mourão e caminhava até as dependências da Escola Estadual José Augusto
Ferreira, mais conhecida como Escola Estadual. De 1991 à 1993 cursei o segundo
grau, hoje correspondente ao ensino médio.
Das
minhas lembranças de estudante, ainda desta época, poucas são as coisas que
afloram na minha memória sobre temas ligados ao meio ambiente. Estudávamos
sobre muitas coisas, mas aulas com temas voltados para a preservação ambiental,
com o cuidado que devíamos ter com o nosso planeta eram raras.
Mas em 1992 aconteceu um fato que marcou e ao
mesmo tempo mudou a percepção que as pessoas tinham sobre as questões
ambientais. Na cidade do Rio de Janeiro aconteceu uma Conferência Mundial sobre
o Meio Ambiente, que ficou conhecida como ECO-92. A partir deste evento as
ações envolvendo a educação ambiental começavam a fazer parte do contexto
escolar.
O
futuro do planeta começava a ser discutido, os problemas ambientais também. Duas
correntes lideravam os debates, uma defendia que os problemas ambientais eram
consequências das ações predatórias do ser humano e a outra que tudo não passa
de um ciclo natural da própria natureza, que o ser humano pouco ou nada
interfere. De vaga memória lembro que naquele momento falava-se mais sobre a
destruição da camada de ozônio, e por consequência do aquecimento global, o derretimento
das geleiras e as mudanças climáticas.
Mas um
assunto não ficou esquecido, e também fez parte da pauta da ECO-92, a questão
da água. Alguns especialistas previam os problemas que a humanidade enfrentaria
decorrentes do desequilíbrio momentâneo do ciclo das águas. Resumindo, de
acordo com eles em futuro não muito distante milhares de pessoas no mundo
enfrentariam a escassez de água.
Soluções
foram apontadas, entre elas, a diminuição de emissão de gases poluentes, o
plantio de árvores, a criação de leis ambientais e uma série de outras pequenas
ações que resultariam na preservação ambiental, no cuidado com a Terra.
O tempo
foi passando, e os debates intensificaram-se. Em meio às discussões a realidade,
uma catástrofe aqui outra ali. Gente morrendo de sede aqui, outras de fome
acolá. Nascentes secando aqui, rios desaparecendo acolá. E de fato o que está
sendo feito na tentativa de pelo menos amenizar o problema? Pelo visto muito
pouco.
E agora
chegou a nossa vez, nossa Caratinga está enfrentando a escassez de água. Começou
na semana passada o rodízio de abastecimento. Talvez muitos pensassem que nunca
chegaria a nossa vez. Como telespectadores, na maioria das vezes inertes,
acompanhávamos tudo que estava acontecendo ao nosso redor, através dos
noticiários e comentários com amigos, mas aquela velha mentalidade permanecia,
comigo não vai acontecer, só com o outro. Nossa cidade não, somente as outras!
Independente
de quem tinha razão nos debates sobre as causas dos problemas ambientais,
perante a dúvida não fizemos nada. Não cuidamos das nossas nascentes, dos
nossos rios, não reflorestamos, ficamos mais presos na bela teoria
ambientalista do que nas ações significativas e concretas que realmente
poderiam de alguma forma amenizar os problemas.
Nestes
anos todos muitas vozes se levantaram e tentaram colocar em evidência a
questão. Mas como são anônimos, despercebidos pela maioria da sociedade, não
tiveram a atenção merecida. Aqueles que deveriam zelar, devido às suas
atribuições administrativas e de gestão, pelo visto preferiram como sempre a
omissão, ou o conforto da conveniência.
E como
sempre, usando do ditado popular "quem paga o pato" é a população, os
mais carentes e desprovidos de qualquer atenção.
A tragédia
ano após ano estava sendo anunciada. Muitas coisas poderiam ter sido realizadas
de fato. Chorar não adianta, a realidade está ai. Temos dois caminhos, ou
continuamos de braços cruzados ou arregaçamos as mangas e comecemos a fazer o
que é preciso. E isto nós já sabemos só nos falta executar, mas executar de
verdade, sem as aparências enganosas que fingem resolver mas mantêm o problema.
Chega de faz de contas!
Walber Gonçalves de Souza é professor.
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