sábado, 11 de abril de 2015

Educação para brasileiro ver
Prof. Walber Gonçalves de Souza

                Algumas verdades sobre a educação merecem todo o crédito e acredito que negá-las seria um absurdo. Incluo neste pacote de verdades, entre outras, as seguintes: educação é um direito de todos; devemos educar para a vida; a relação escola e família deve ser harmoniosa; os países desenvolvidos iniciaram seus processos de desenvolvimento pela educação; a educação é a base do desenvolvimento pessoal e social...
                Existem vários fatores que comprovam as afirmativas acima. Como exemplo, cito a constituição, que é a lei máxima da nação e assegura o direito à educação para todos. Nesta direção, este princípio deveria ser o guia central para o desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos que compartilham da nação.
                Como professor, tenho que acreditar na educação. Senão não faz sentido o meu ofício. O contrário reforça a ideia do caos, da perpetuação das conjunturas adversas, da decadência humana e da crença que mudar se torna uma prática impossível. Mas a realidade é cruel, e acaba criando o sentimento de fracasso, que em muitos casos torna infecundo o papel do professor. Reforçando ainda mais o sentimento de inutilidade social.
                Neste sentido, acreditar na importância da educação se torna o cerne das transformações que desejamos. Haja visto o exemplo de inúmeros países que trilharam o caminho do saber, para ilustrar menciono o Japão, a Inglaterra, França... e a candidata a potência mundial, a China, que tem revisto seus programas de educação pública, na expectativa de manter o seu quadro de desenvolvimento.
                No Brasil, as páginas que contam a história educação, infelizmente, na maioria dos casos não são preenchidas de glórias, de acontecimentos positivos, pelo contrário, quase que chegamos sempre naquela mesma conclusão: nossos governantes não olham o educação da forma que deveria; povo sem escolaridade é massa de manobra, não questiona... e assim por diante. Até mesmo quando os indicies oficiais indicam uma direção, a realidade, que é o termômetro real, diz outra. Mas isto não é uma novidade pra ninguém!
                Mas como todo livro, podemos escrever novos capítulos, novas edições, a história pode tomar outros rumos. E é justamente isto que o professor deve acreditar... nas novas páginas a serem escritas.
                Quantos problemas poderíamos evitar, até os custos dos órgãos públicos poderiam se redirecionados, se a educação fosse realmente prioridade e de suma importância. Imaginemos, algumas situações:
                Quando a educação, de fato acontece, realmente ela transforma a vida das pessoas. Não só financeiramente, mas em outras dimensões da sua vida. Um povo educado, portanto com conhecimento, procura ter uma alimentação melhor, noções de higiene... e onde isto reflete, na saúde, num povo mais saudável, e pensamento friamente em menos gastos para o sistema de saúde. Um povo educado, portanto com conhecimento, cuida do corpo, através de atividades físicas e/ou demais atividades que reduzem o sedentarismo. Um povo educado, portanto com conhecimento, cuida, como diria Platão, da alma... buscando ler, refletir, pensar... e onde isto reflete, na saúde mental, tornando a pessoa mais polida, equilibrada. Um povo educado, portanto com conhecimento, cuida dos valores e tradições que engrandecem os seres e os tornam mais humanos... e onde isto reflete, no olhar o outro com dignidade. Um povo educado, portanto com conhecimento, cuida dos patrimônios culturais, zelam pelos espaços públicos... e onde isto reflete, na convivência com menos violência e com mais respeito. Um povo educado, portanto com conhecimento, cuidas das ruas, das praças, deposita seu lixo para a coleta nas horários pré-estabelecidos... e onde isto reflete, na harmonia do ambiente, na beleza natural das coisas, no sentimento de pertença.  Um povo educado, portanto com conhecimento, não se vê como massa de manobra, acredita em si mesmo, expurga os corruptos, crê nas possibilidades, agi, busca, trabalha... e onde isto reflete, em uma sociedade melhor e justa para todos. Um povo educado, portanto com conhecimento, não tem a síndrome da "Lady Kate": "tô pagando". Um povo educado, portanto com conhecimento, evita os métodos ilegais, os jeitinhos, as manobras, os arranjos individualistas... e onde isto reflete, em menos gastos com o sistema penitenciário. Enfim, um povo educado, portanto com conhecimento, torna-se cada vez mais gente como atitudes próprias dos seres humanos.
                Portanto, acreditar na educação é acreditar na transformação, em novos cenários, no possível... no desenvolvimento de uma sociedade justa e próspera. A exemplo do que acontece na Dinamarca, Noruega, Suécia...
                Mas por que no Brasil isto não acontece, de fato? A resposta é muito simples: o caos gera a necessidade; a necessidade gera a "cegueira"; e a "cegueira" produz o pior de todos os covardes, que de acordo Bertolt Brecht, seria o político lacaio, corrupto... aquele que não educa, para tentar garantir sempre a manutenção dos seus cordiais eleitores.
                Parafraseando o dito popular "para inglês ver", termino este texto, dizendo que nossa educação é "para brasileiro ver". Pois de fato ela não cumpre os objetivos nos quais ela se fundamenta.

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