Walber Gonçalves de
Souza
Manhã
de sábado, um dia ensolarado, convidativo para uma prática esportiva. Ao fundo
o gorjear dos pássaros e o som dos passos, daqueles, que ligeiramente transitam
rumo aos seus postos de trabalho. Foi neste cenário que Voltaire, seguindo sua
rotina, despertou-se, levantou-se, começou a preparar o café e quando este
fervia, foi até onde está localizada a caixa de correios, para buscar os jornais
que ele recebe todos as manhãs.
Folheando
as páginas dos jornais, enquanto saboreava sua refeição matinal, entre
manchetes, notícias, fotos e artigos sentiu que faltava algo. Aquelas folhas transfiguravam
incompletas, os tipos que ali constavam não demonstravam sentido. Parecia que o
que esperava ler não estava ali.
Com a
face demonstrando introspecção, passo a passo, caminhando vagarosamente,
Voltaire, dirigiu-se rumo à janela, que fica de frente para a rua e ali em um
ato solitário começou a observar tudo que suas vistas poderiam alcançar. As
casas, os tipos de construções, as cores... em alguns momentos os efeitos da
memória resgatava os tempos idos e as intermináveis comparações temporais eram
inevitáveis. O que no passado era sim, hoje não é mais, o que estava vazio,
hoje está cheio... o espaço de visão era aberto, hoje as brechas entre paredes,
criam um labirinto para o olhar.
Envolto
pelos raios solares, que começavam a invadir a janela, observava o vai e vem
das pessoas que transitavam pela rua, sendo que algumas deixavam o tempo passar
em um momento de prosa. Balbuciavam sobre tudo... como seria o tempo no final
de semana, os resultados dos jogos do brasileirão, os casos de polícia e da política,
em todos os seus âmbitos, de Brasília ao gabinete do prefeito, a agenda do fim
de semana, as festividades de maio...
Quando
tudo parecia calmo, voltou seu olhar para a Pedra Itaúna, e ficou admirando a
beleza ímpar, proveniente daquela parede de pedra, que enfeita a cidade das
palmeiras. Suas curvas, sua textura, a rala vegetação que insiste em querer
fazer moradia no seu entorno, tentando fugir, ano após ano, das chamas que
insistem em visitá-la. Às vezes o curso dos seus olhos contemplavam o céu e a
imaginação fluía... mas sem que notasse estava novamente fixando-se naquela
imensa pedra.
Assim, os
sentidos não detectaram, que a rotação e translação terrestre iam completando
suas jornadas, os segundos, os minutos... percorriam seu destino marcando
suavemente o tempo... De repente um gato, de aparência vistosa, passa em um ritmo
apressado, parecia estar fugindo de algum perigo canino. Levando o olhar de
Voltaire a desviar-se e logo em seguida encontrar um outro pouso... a beleza de
um pássaro amarelo, o famoso canarinho, que já esteve ameaçado de extinção, mas
que sobreviveu ao tempo e aos perigos das gaiolas, fazendo-se presente nos
muros, fios, portões... que delimitam os contornos das ruas, formando a polis
contemporânea.
Fixando naquele ponto amarelo, ele foi
envolvido pela melodia serena, que saia do bico daquele pequeno ser, em formas
de ondas invisíveis mas que se tornavam audíveis. Foi aí que Voltaire
lembrou-se do seu famoso homônimo. Neste momento, percebeu o que faltava nas
páginas daquele jornal.
Walber Gonçalves de Souza é professor.