sábado, 9 de maio de 2015

Transparência que não mostra nada
Walber Gonçalves de Souza


         
"Quem não deve não teme". Um dos ditados populares mais falados e conhecidos. E é justamente com base nele, que não consigo entender tamanha falta de transparência de tudo aquilo que envolve as coisas públicas no Brasil.
              
A partir do pensamento Iluminista, corrente político/filosófica, que dominou  a Europa no século XVIII, a vida pública e privada ganha conotações distintas. O direito à propriedade e a privacidade ganham espaço e ao mesmo tempo o sentido de se fazer política, também destaco o direito de cada cidadão poder votar, e a criação, por Montesquieu, da Teoria dos Três Poderes - executivo, legislativo e judiciário - basicamente e teoricamente, conforme acontece hoje no Brasil. Digo teoricamente, pois em nossa nação, teoria e prática não são percebidas e vivenciadas na mesma proporção.
             
 Mas, o que tudo que escrevi até agora tem a ver com transparência?
             
 Ao escolher, através do voto, aqueles que irão nos representar, administrando grande parte daquilo que é público, esperamos poder contar com algumas coisas e entre elas, sem sombra de dúvidas, a transparência. Mas, por que ela é tão temida?
             
Como cidadão, eleitor, pagador de impostos... só me resta pensar uma resposta, para tal pergunta: a transparência é temida pois a falta dela esconde tudo de podre que está presente na vida pública da nossa cidade, estado e país.
             
 Quando todos aqueles, que de uma forma ou outra, envolvem-se com coisas públicas, tais como, licitações, prestações de serviços, fornecimento de produtos diversos... entre outros, e teme a transparência, no mínimo, é uma atitude eticamente condenável e que permite as mais inquietantes dúvidas. Sendo mais direto, por viver em terras tupiniquins, a falta de transparência é a porta de entrada de todos os males que corroem nossa sociedade, permitindo-nos pensar que ali ocorreu mais uma prática em que a corrupção esteve envolvida.
             
 Inexistente, de fato. Tem se tornado motivo de intermináveis polêmicas, processos, jogos de cena... chegando ao ponto de ser percebida como uma total falta de respeito, perante todos aqueles que queiram saber os detalhes da vida pública.
              
Todos os dias, acompanhamos pelos noticiários locais, estaduais e nacionais, escândalos das mais variadas formas e em todos eles a transparência das informações não está presente. Esconde-se tudo, nega-se tudo... há uma ojeriza pela transparência dos fatos, das informações.
               
Acredito, que seria muito mais autêntica, a vida pública, se todas a pessoas que almejassem saber o que acontece nos bastidores do poder, tivessem acesso as informações,  sem rodeios, sem relatórios faz de conta, que dizem mostrar tudo, mas que na verdade não nos permite saber, pelo menos em que o nosso dinheiro está sendo gasto.
              
Sei que alguns, ao lerem este artigo, poderão se perguntar, e a Lei da Transparência, não tem este objetivo? A lei sim, mas lanço aqui um desafio, procure se informar de algum escândalo que tenha acontecido nos últimos anos no seu município e busque todas as informações referente a ele. Vá na prefeitura e/ou na câmara de vereadores protocole o seu pedido de informação e veja o que vai acontecer. Se você irá receber as informações que procura. E caso receba alguma resposta do seu pedido, observe se é suficiente para entender e desvendar o escândalo que você almeja ver resolvido.
              
É inacreditável, mas é a mais pura e cruel realidade. A falta de transparência virou rotina, um vício enraizado nas repartições públicas do nosso país. De acordo com a lei temos o direito de saber, de praticamente tudo, que acontece na esfera pública, mas na prática, a realidade é outra, esconde-se as informações, mente-se, engana-se, falsifica-se... e quando a transparência diz acontecer, ela fica tão transparente que não se vê nada.
              
Se for possível afirmar, que o dito popular, mencionado acima é verdade, chegaremos a triste conclusão que estamos sendo assaltados todos dias, por aqueles que deveriam cuidar do que é nosso. Pelo visto, pelo que parece, o medo da transparência, é fruto do temor de todos saberem que a vida pública, virou um pseudônimo, infeliz, para as questões que envolvem, a vida particular de alguns.


Walber Gonçalves de Souza é professor do Centro Universitário de Caratinga.
(Artigo publicado simultaneamente nos jornais: 
Diário de Caratinga; Diário de Manhuaçu e Diário de Teófilo Otoni no dia 09/05/15) 

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