terça-feira, 16 de junho de 2015

Faculdade do Café: orgulho de Caratinga
Walber Gonçalves de Souza
          

Noite fria, a presença do sereno era tão forte, que quando olhávamos sobre alguma superfície, parecia que estava caindo uma fina garoa. Os transeuntes completos de agasalhos. As mulheres transfiguradas com o charme da alma feminina e os homens trajados com vestes típicas para as noites de junho, em dia de festa de São João.
                
O local da festa mostrava-se cuidadosamente preparado, com uma enorme fogueira, umas das maiores do planeta, um palco em fase de ajustes finais para o grande show da noite, barraquinhas totalmente enfeitas com bandeirolas, e servindo os quitutes típicos para as noites frias de inverno, um parquinho de diversão para divertir e acolher as crianças e um estande, que trazia no centro, uma linda maquete para que todos conhecessem, de forma diminuta, a Faculdade do Café, a tão esperada estrela festa.
               
Todos estavam preparados para o grande dia, naquela noite de 24 de junho, dia em que a cidade de Caratinga completaria 130 anos, seria inaugurada a primeira Faculdade do Café do Brasil.
                
As instalações da Faculdade do Café foram detalhadamente pensadas. Seu objetivo maior, seria pesquisar e oferecer à sociedade todas as possibilidades potenciais do cultivo do café. A estrutura física ficou organizada e distribuída da seguinte forma: uma área de produção de mudas, que contava com os mais diferentes tipos de plantas; foram selecionados, em várias partes do município, pequenos terrenos para servirem de campo experimental, no qual seriam cultivadas várias espécies de café, assim, saberíamos qual tipo de muda seria o melhor para determinada região; em parceria com empresas privadas, vários laboratórios foram montados: Laboratório de Genética de Plantas, para o estudo e aperfeiçoamento genético das mudas, possibilitando possíveis correções estruturais das plantas, permitindo uma melhor adaptação às condições geográficas e climatológicas da região; Laboratório de Insumos e Adubação, responsável por indicar os nutrientes que seriam pertinentes ao cultivo de cada região; Laboratório de torrefação, que estudaria à que temperatura cada tipo de café seria torrado para melhor aproveitar seus aromas e sabores; Laboratório de Mecânica, para desenvolver os aparatos, próprios para o cultivo do café, dentro das nossas características topográficas, bem como, aparelhos para o uso doméstico e comercial; Laboratório Fitoterápico, para pesquisar as potenciais possibilidades do uso medicinal do café; Laboratório de Estética, que seriam pesquisados o desenvolvimento de cremes, xampus, perfumes... enfim, os vários tipos de cosméticos; Laboratório de Artesanato, para ministrar técnicas do uso da madeira para a produção de artefatos de decoração; Laboratório de Alimentos, para o desenvolvimento de receitas para o uso do café, em que englobariam a produção de doces, balas, tortas, bombons, os diversos tipos de café expresso, bebidas...; Laboratório de Despolpa, para o estudo da destinação adequada para os resíduos da produção cafeeira; Laboratório de Estudos Ambientais, para pesquisar e analisar os impactos do cultivo no ambiente e indicar sugestões de adequação para amenizar os possíveis danos; Laboratório de Colheita de Grãos, para o desenvolvimento de técnicas de colheita para estar adequada à destinação do café, para qual o seu uso.
                
Na área da faculdade seria possível observar também, áreas de secagem, armazéns de estocagens, um pequeno "Porto Seco" para recebimento de amostras, um Centro de Convenções para palestras e cursos para os produtores, um loja para venda dos produtos desenvolvidos na faculdade e região, uma biblioteca... e um belo e atraente Museu do Café, que serviria para divulgar a cultura cafeeira e guardar a memória dos cafeicultores.
                
E o momento chegou, entre aplausos, foguetes, simbolicamente a fita de inauguração foi cortada. O nome dos estudantes da primeira turma, dos professores e equipe técnica foram anunciados. O primeiro dia de aula estava com a data marcada.
                
Assim, cada ano que se passava, novos empreendimentos iam chegando à cidade de Caratinga. A faculdade trouxe com ela a oportunidade para novos empreendimentos, empresas começavam seus trabalhos, entre elas, produtoras de embalagens, rótulos, marketing, logística... consequentemente novos postos de trabalho, desenvolvimento social. Nasce também a Festa do Café, que ano após  ano aglomerava mais pessoas, movimentando o turismo e o comércio.
                
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município destaca-se entre as cidades do Brasil. A Faculdade do Café representou uma ruptura, Caratinga nunca mais foi a mesma depois dela, pois toda a população, das mais diversas formas, passou a participar da riqueza produzida pelo café.
                
Passados 37 anos, da inauguração da Faculdade do Café, em mais uma noite fria, de festa, uma nova notícia, está aquecendo a alma dos caratinguenses. O Reitor, em seu último ato, pois irá se aposentar, foi convidado pelo prefeito, para dar a todos mais um presente: a penitenciária será desativada, passará a abrigar um centro cultural.

Walber Gonçalves de Souza é professor. 
(Artigo publicado simultaneamente nos jornais: Diário de Caratinga,
 Diário de Manhuaçu e Diário de Teófilo Otoni no dia 16 de junho.)

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