Faculdade do
Café: orgulho de Caratinga
Walber Gonçalves de
Souza
Noite
fria, a presença do sereno era tão forte, que quando olhávamos sobre alguma
superfície, parecia que estava caindo uma fina garoa. Os transeuntes completos
de agasalhos. As mulheres transfiguradas com o charme da alma feminina e os
homens trajados com vestes típicas para as noites de junho, em dia de festa de
São João.
O local
da festa mostrava-se cuidadosamente preparado, com uma enorme fogueira, umas
das maiores do planeta, um palco em fase de ajustes finais para o grande show
da noite, barraquinhas totalmente enfeitas com bandeirolas, e servindo os
quitutes típicos para as noites frias de inverno, um parquinho de diversão para
divertir e acolher as crianças e um estande, que trazia no centro, uma linda
maquete para que todos conhecessem, de forma diminuta, a Faculdade do Café, a
tão esperada estrela festa.
Todos
estavam preparados para o grande dia, naquela noite de 24 de junho, dia em que
a cidade de Caratinga completaria 130 anos, seria inaugurada a primeira
Faculdade do Café do Brasil.
As
instalações da Faculdade do Café foram detalhadamente pensadas. Seu objetivo
maior, seria pesquisar e oferecer à sociedade todas as possibilidades
potenciais do cultivo do café. A estrutura física ficou organizada e distribuída
da seguinte forma: uma área de produção de mudas, que contava com os mais
diferentes tipos de plantas; foram selecionados, em várias partes do município,
pequenos terrenos para servirem de campo experimental, no qual seriam cultivadas
várias espécies de café, assim, saberíamos qual tipo de muda seria o melhor
para determinada região; em parceria com empresas privadas, vários laboratórios
foram montados: Laboratório de Genética de Plantas, para o estudo e
aperfeiçoamento genético das mudas, possibilitando possíveis correções
estruturais das plantas, permitindo uma melhor adaptação às condições geográficas
e climatológicas da região; Laboratório de Insumos e Adubação, responsável por
indicar os nutrientes que seriam pertinentes ao cultivo de cada região; Laboratório
de torrefação, que estudaria à que temperatura cada tipo de café seria torrado
para melhor aproveitar seus aromas e sabores; Laboratório de Mecânica, para
desenvolver os aparatos, próprios para o cultivo do café, dentro das nossas
características topográficas, bem como, aparelhos para o uso doméstico e
comercial; Laboratório Fitoterápico, para pesquisar as potenciais possibilidades
do uso medicinal do café; Laboratório de Estética, que seriam pesquisados o
desenvolvimento de cremes, xampus, perfumes... enfim, os vários tipos de
cosméticos; Laboratório de Artesanato, para ministrar técnicas do uso da
madeira para a produção de artefatos de decoração; Laboratório de Alimentos,
para o desenvolvimento de receitas para o uso do café, em que englobariam a
produção de doces, balas, tortas, bombons, os diversos tipos de café expresso, bebidas...;
Laboratório de Despolpa, para o estudo da destinação adequada para os resíduos
da produção cafeeira; Laboratório de Estudos Ambientais, para pesquisar e
analisar os impactos do cultivo no ambiente e indicar sugestões de adequação para
amenizar os possíveis danos; Laboratório de Colheita de Grãos, para o
desenvolvimento de técnicas de colheita para estar adequada à destinação do
café, para qual o seu uso.
Na área
da faculdade seria possível observar também, áreas de secagem, armazéns de estocagens,
um pequeno "Porto Seco" para recebimento de amostras, um Centro de
Convenções para palestras e cursos para os produtores, um loja para venda dos
produtos desenvolvidos na faculdade e região, uma biblioteca... e um belo e
atraente Museu do Café, que serviria para divulgar a cultura cafeeira e guardar
a memória dos cafeicultores.
E o
momento chegou, entre aplausos, foguetes, simbolicamente a fita de inauguração
foi cortada. O nome dos estudantes da primeira turma, dos professores e equipe
técnica foram anunciados. O primeiro dia de aula estava com a data marcada.
Assim,
cada ano que se passava, novos empreendimentos iam chegando à cidade de
Caratinga. A faculdade trouxe com ela a oportunidade para novos
empreendimentos, empresas começavam seus trabalhos, entre elas, produtoras de
embalagens, rótulos, marketing, logística... consequentemente novos postos de trabalho,
desenvolvimento social. Nasce também a Festa do Café, que ano após ano aglomerava mais pessoas, movimentando o
turismo e o comércio.
O
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município destaca-se entre as cidades
do Brasil. A Faculdade do Café representou uma ruptura, Caratinga nunca mais
foi a mesma depois dela, pois toda a população, das mais diversas formas,
passou a participar da riqueza produzida pelo café.
Passados
37 anos, da inauguração da Faculdade do Café, em mais uma noite fria, de festa,
uma nova notícia, está aquecendo a alma dos caratinguenses. O Reitor, em seu
último ato, pois irá se aposentar, foi convidado pelo prefeito, para dar a
todos mais um presente: a penitenciária será desativada, passará a abrigar um
centro cultural.
Walber Gonçalves de Souza é
professor.
(Artigo publicado simultaneamente nos jornais: Diário de Caratinga,
Diário de Manhuaçu e Diário de Teófilo Otoni no dia 16 de junho.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário