sábado, 12 de setembro de 2015

PARTIDOS DA FLORESTA: 
UMA METÁFORA POLÍTICA
Crônica publicada no dia 09/09 no Diario de Caratinga.

Houve um tempo em que todos os animais da floresta viviam de uma forma harmoniosa. Cada bicho desempenhava o seu papel. A coruja contemplava a noite, as minhocas preparavam a terra para as plantações, os pássaros eram responsáveis pelo transporte das sementes e alegria do canto nos momentos de festas, o elefante com sua enorme tromba trazia a água, e assim a vida na floresta se fazia. Não havia brigas, disputas, ciúmes, violência e tantos outros males que nós conhecemos e sabemos o quanto dizima nossa sociedade.
Dentro das limitações e características individuais a vida do reino animal era justa e fraterna. Nenhum ser que ali vivia passava fome ou sede. Todos tinham o suficiente para viver. É importante lembrar também, que eles não acumulavam nada, simplesmente viviam a vida!
Até que um dia, certo bicho considerado por todos como o grande líder da floresta, o leão, despertou para uma nova forma de vida. Ele por se achar muito forte e valente não queria mais trabalhar. Queria simplesmente ser servido por todos os outros animais. Mas como sabemos que cada animal tinha a sua obrigação, na falta de um a vida na floresta se modificou, devagar as necessidades foram aparecendo. Muitos animais foram se revoltando, mas por medo aceitavam aquela nova realidade. Outros desapareceram e vários entraram em processo de extinção. Muitos destes por acreditar que ainda era possível resgatar o sonho da vida harmoniosa e justa.
Assim a vida que era bela, passou a ser tenebrosa. A fome e a sede se tornaram duas realidades presentes. As brigas começaram e as disputas também. Todo o clima gostoso e harmonioso havia se acabado.
Depois de muito tempo, e vivendo com grande dificuldade, os animais sobreviventes resolveram criar grupos para defenderem seus desejos. A vida na floresta tornara-se tão difícil que cada espécie começou a olhar os seus interesses, esquecendo por completo o bem coletivo.
Apareceu o Partido dos Roedores, composto pelas capivaras, coelhos e ratos; O Partido Voador, formado pelas araras, papagaios e sabiás; o Partido dos Pássaros Negros, constituído pelos anus e melros; o Partido dos Peludos, mantido pelos cachorros, tigres, gatos e ovelhas… e assim por diante, se não estou enganado naquela floresta se contabilizava cerca de quinze partidos.
Mas não demorou muito, dentro destes partidos começou a haver brigas. Na verdade eles não se entendiam e nem estavam dispostos a olharem o bem comum, queriam sim, tirar proveito próprio. O espírito autossuficiente já havia enraizado suas ações e aspirações.
E em meio a este tumulto nasceu um novo partido, o Partido da Floresta, que no papel tinha uma ideologia bonita, comprometida com a vida dos viventes da mata. O Partido da Floresta pretendia revitalizar a floresta e as relações entre os animais que existiam anteriormente. O triste é que os animais que compunham este novo partido provinham daqueles já existentes e que por motivos de intrigas se afastaram. Por isso, na prática os belos ideais ficaram esquecidos, o cotidiano mostrou que mesmo em um novo partido as atitudes eram semelhantes às de quando eles participavam de outros partidos.
Hoje, a floresta está quase no fim… poucos são aqueles que ousam desafiar este quadro político da bicharada. Os poucos animais comprometidos são perseguidos. Aqueles que se perpetuam no poder, usando de indizíveis formas, vão irradiando injustiças e infelicidades, tudo isso em nome de um falso bem estar e um profundo egoísmo.
* Walber Gonçalves de Souza é professor do Ensino Fundamental, Médio e Universitário na Fundação Educacional de Caratinga/MG.

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