terça-feira, 24 de novembro de 2015

Crônica

EU NÃO RIO QUANDO OLHO PARA O RIO
Crônica publicada hoje (24/11) no Jornal Diário de Caratinga em parceria com Edcarlos Freitas.

No lugar onde nasci beleza igual nunca se viu, um jardim da natureza, águas cristalinas, céu cor de anil, árvores que dançam quando vem o vento; sem contar o brilho que o luar vem me trazer, que lugar bonito! Não canso de me gabar, de nascer em tal paraíso e em tal paraíso morar.
Um dia estava eu a passear pela cidade quando olhei e vi algo estranho andando entre a cidade, devagar, quase parando, seguia seu destino já quase morto, algo sombrio, escuro, perguntei o que era aquilo a um senhor que caminhava pela calçada, e com a voz entrecortada me respondeu sem pensar muito, isto é o rio. Fiquei assustado com o que vi.
Não é novidade para ninguém que o amanhã é incerto, porém nos últimos dias esta afirmação vem se tornando mais real. Desde os primórdios o rio sempre foi algo de muita importância para a sociedade; nas civilizações, desde muito cedo os homens procuraram habitar em regiões próximas aos rios, pois nestas regiões existia abundância de água potável para os membros da tribo e para os seus animais. Os vales do rio Nilo no Egito; a região conhecida como Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, aproximadamente onde hoje é o Iraque; o rio Indo, aproximadamente no noroeste do subcontinente indiano; os rios Amarelo e Azul localizados na China foram rios nos quais em suas margens se desenvolveram grandes civilizações.
O rio como vemos hoje é um espelho que reflete a ignorância humana, uma espécie que dentre tantas tem grande habilidade de destruir seu habitat, e perguntar às pessoas qual a contribuição de cada um para a poluição do rio, é como perguntar a um peixe o quanto ele se sente molhado. Assim cada árvore derrubada, cada pedaço de papel lançado nas águas ou nas ruas torna-se para o homem um histórico criminal, homicídio culposo quando há intenção de matar, e matar a si próprio e ao próximo.
Uma vez Jesus veio à terra e até tentou ensinar sobre como “ser humano”, mas parece que não deu muito certo, ensinou a zelar pelas coisas da natureza, ensinou a amar o próximo, mas no final não entendemos nada.
Lembro-me de uma canção que sempre se ouve nos finais de anos “o futuro já começou”, talvez começou mais cedo, e nós ainda não nos preparamos para recebê-lo, com o pouco de água que nos resta, ainda assim dedicamos parte do nosso tempo para contaminar o rio. Esperança, palavra simples, humilde, mas que assume seu lugar na boca dos moradores de Caratinga. Atitude, palavra bonita só quando colocada em prática. E lá se vai o rio, e lá vão as águas, chegou em uma curva, dobrou para esquerda e sumiu, me despedi com lástimas, talvez não mais voltará.
Walber Gonçalves de Souza é professor e Edcarlos Freitas graduando em Psicologia pelo Centro Universitário de Caratinga (UNEC)

Nenhum comentário:

Postar um comentário