domingo, 27 de dezembro de 2015

Crônica Diário de Caratinga

Guerra civil silenciosa
Walber Gonçalves de Souza


                Entendemos por guerra civil o conflito existente entre os membros de uma própria nação, geralmente grupos que brigam entre si por algum objetivo. De um modo geral estes grupos são formados pela minoria da população, mas seus efeitos são praticamente percebidos e vivenciados por todos. A violência e o terror são as características principais que alimentam os conflitantes.
                Em alguns lugares a guerra civil está escancarada, um exemplo atual seria o conflito entre os sunitas e xiitas, dando origem ao famoso estado islâmico e seus feitos. Historicamente poderíamos destacar os seguintes países que foram e alguns ainda são palcos de guerras civis cruéis: o apartheid na África do Sul, Camboja, Irlanda do Norte, Síria, Congo, Caxemira, Haiti, Uganda, Angola... e tantas outras espalhadas mundo afora que formam um lista considerável.
                Mas vivemos no Brasil, em um país de povo pacífico, amável, acolhedor, que está sempre de braços abertos. Portanto, não devemos temer, pois nunca correremos o risco de vivermos uma guerra civil. Será?
                Aproveite um domingo, durante o dia, para fazer uma caminhada pela cidade onde  você mora e faça o seguinte exercício: caminhe vagarosamente pelas ruas do bairro em que você reside e vai observando as habitações com calma, com raríssimas exceções chegará à seguinte conclusão; praticamente em todas elas será possível verificar a existência de grade nas janelas, portões, muros, em algumas cerca elétrica e monitoramente via câmeras.              
                Outra experiência que você poderá fazer, embora esta eu não aconselho, é sair pela madrugada e caminhar pelas ruas, você encontrará muitas pessoas pelas esquinas, vivendo o submundo que envolve o tráfico de drogas. E infelizmente estão prontas para tudo, roubar, matar, prostituir... Em várias cidades as pessoas têm medo de sair à noite, em outras existem locais que você pode entrar ou passar, mas não sabe se sairá vivo ou conseguirá concluir o seu trajeto em paz.
                Aos poucos vai nascendo de forma silenciosa um guerra civil, onde o medo e a impunidade faz com que as pessoas se tranquem em suas próprias casas. Em contrapartida a minoria que aterroriza e está disposta a tudo domina as ruas, os bairros, criando uma sensação de insegurança.
                Todos os dias as páginas dos jornais e as reportagens dos telejornais estão repletos de pessoas assassinadas, roubadas, cada crime que acontece que faz nascer uma pergunta cruel: como pode o ser humano ter coragem de fazer uma coisa dessas? Ou até mesmo a seguinte exclamação: a que ponto está chegando o ser humano! Algumas capitais de Estado parecem estar vivendo uma guerra civil aberta, todos os dias morrem inúmeras pessoas vítimas desses conflitos.
                Sabemos que não podemos ser simplistas em relação a este problema, nem tão pouco fingir que ele não está acontecendo. Mas entre as várias causas, destaco a crescente e manipulada opinião pública que prega contra as autoridades constituídas. As instituições estão perdendo o seu papel e com a decadência delas o caos se generaliza.
                Podemos afirmar com toda a certeza do universo que existem pais que são maus pais, que não cumprem com o seu papel de provedores dos seus filhos e do lar. Da mesma forma, que existem em todas as profissões maus profissionais. Não podemos também tampar o sol com a peneira e infelizmente constatamos que nas mãos de alguns daqueles que deveriam cuidar da segurança, portanto os nossos agentes de segurança pública, os policiais, há muita sujeira, corrupção, desonestidade, situações que mancham as instituições às quais eles pertencem. Mas este é o grande problema, acreditar que estas pessoas são a maioria. Assim não se "combate" os maus pais, os maus profissionais, os maus policiais. Acham mais fácil acabar com a família, permitir que qualquer pessoa de qualquer jeito se torne um profissional de qualquer área e denegrir as instituições policiais, como se todos os policiais não prestassem.
                Combatendo os maus abriremos espaços para os bons, para os justos, para aqueles que cumprem com orgulho as atribuições para as quais foram designados. Não podemos permitir que em nome da impunidade e dos maus (que acredito ser a minoria) se instale nas nossas cidades uma silenciosa guerra civil, pois no dia em que ela se tornar evidente aí sim, nossas casas irão se tornar definitivamente a nossa prisão.


Walber Gonçalves de Souza é professor do Centro Universitário de Caratinga / UNEC.

Nenhum comentário:

Postar um comentário