Guerra civil
silenciosa
Walber Gonçalves de
Souza
Entendemos
por guerra civil o conflito existente entre os membros de uma própria nação,
geralmente grupos que brigam entre si por algum objetivo. De um modo geral
estes grupos são formados pela minoria da população, mas seus efeitos são
praticamente percebidos e vivenciados por todos. A violência e o terror são as
características principais que alimentam os conflitantes.
Em
alguns lugares a guerra civil está escancarada, um exemplo atual seria o
conflito entre os sunitas e xiitas, dando origem ao famoso estado islâmico e
seus feitos. Historicamente poderíamos destacar os seguintes países que foram e
alguns ainda são palcos de guerras civis cruéis: o apartheid na África do Sul,
Camboja, Irlanda do Norte, Síria, Congo, Caxemira, Haiti, Uganda, Angola... e
tantas outras espalhadas mundo afora que formam um lista considerável.
Mas
vivemos no Brasil, em um país de povo pacífico, amável, acolhedor, que está
sempre de braços abertos. Portanto, não devemos temer, pois nunca correremos o
risco de vivermos uma guerra civil. Será?
Aproveite
um domingo, durante o dia, para fazer uma caminhada pela cidade onde você mora e faça o seguinte exercício: caminhe
vagarosamente pelas ruas do bairro em que você reside e vai observando as habitações
com calma, com raríssimas exceções chegará à seguinte conclusão; praticamente
em todas elas será possível verificar a existência de grade nas janelas,
portões, muros, em algumas cerca elétrica e monitoramente via câmeras.
Outra
experiência que você poderá fazer, embora esta eu não aconselho, é sair pela
madrugada e caminhar pelas ruas, você encontrará muitas pessoas pelas esquinas,
vivendo o submundo que envolve o tráfico de drogas. E infelizmente estão
prontas para tudo, roubar, matar, prostituir... Em várias cidades as pessoas têm
medo de sair à noite, em outras existem locais que você pode entrar ou passar,
mas não sabe se sairá vivo ou conseguirá concluir o seu trajeto em paz.
Aos
poucos vai nascendo de forma silenciosa um guerra civil, onde o medo e a
impunidade faz com que as pessoas se tranquem em suas próprias casas. Em
contrapartida a minoria que aterroriza e está disposta a tudo domina as ruas,
os bairros, criando uma sensação de insegurança.
Todos
os dias as páginas dos jornais e as reportagens dos telejornais estão repletos
de pessoas assassinadas, roubadas, cada crime que acontece que faz nascer uma
pergunta cruel: como pode o ser humano ter coragem de fazer uma coisa dessas? Ou
até mesmo a seguinte exclamação: a que ponto está chegando o ser humano!
Algumas capitais de Estado parecem estar vivendo uma guerra civil aberta, todos
os dias morrem inúmeras pessoas vítimas desses conflitos.
Sabemos
que não podemos ser simplistas em relação a este problema, nem tão pouco fingir
que ele não está acontecendo. Mas entre as várias causas, destaco a crescente e
manipulada opinião pública que prega contra as autoridades constituídas. As
instituições estão perdendo o seu papel e com a decadência delas o caos se
generaliza.
Podemos
afirmar com toda a certeza do universo que existem pais que são maus pais, que
não cumprem com o seu papel de provedores dos seus filhos e do lar. Da mesma
forma, que existem em todas as profissões maus profissionais. Não podemos
também tampar o sol com a peneira e infelizmente constatamos que nas mãos de
alguns daqueles que deveriam cuidar da segurança, portanto os nossos agentes de
segurança pública, os policiais, há muita sujeira, corrupção, desonestidade,
situações que mancham as instituições às quais eles pertencem. Mas este é o grande
problema, acreditar que estas pessoas são a maioria. Assim não se "combate" os maus pais, os maus
profissionais, os maus policiais. Acham mais fácil acabar com a família,
permitir que qualquer pessoa de qualquer jeito se torne um profissional de
qualquer área e denegrir as instituições policiais, como se todos os policiais
não prestassem.
Combatendo
os maus abriremos espaços para os bons, para os justos, para aqueles que
cumprem com orgulho as atribuições para as quais foram designados. Não podemos permitir
que em nome da impunidade e dos maus (que acredito ser a minoria) se instale nas
nossas cidades uma silenciosa guerra civil, pois no dia em que ela se tornar
evidente aí sim, nossas casas irão se tornar definitivamente a nossa prisão.
Walber Gonçalves de Souza é professor do Centro Universitário de
Caratinga / UNEC.
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