A celeuma em que se transformou o Cine Brasil
Prof. Walber Gonçalves de Souza
Podemos
afirmar, com toda a certeza do mundo, que Caratinga não pode ser considerada
uma cidade histórica, a exemplo das famosas cidades de Ouro Preto, Mariana,
Diamantina e outras mais, que até viraram Patrimônio Histórico Mundial.
Com a
mesma convicção, podemos continuar afirmando que, mesmo não sendo uma cidade
histórica, o município de Caratinga tem a sua história. Que merece ser
descrita, analisada, estudada e preservada. Por um motivo muito simples e
plausível, só assim as futuras gerações poderão ter acesso ao seu passado,
possibilitando o crescimento intelectual e cultural do indivíduo.
Já
diria aquela velha máxima, "um povo sem memória é um povo sem história. E
um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos
erros do passado". E não existe outro caminho, para se conhecer a história
é preciso preservá-la. Caso o contrário ficaremos nesta roda viva, repetindo
sempre as mesmas coisas, achando que estamos inovando, sendo diferentes.
Na
terra das palmeiras, recentemente vivenciamos esta discussão, em torno da
demolição ou não da antiga construção que funcionava, em tempos idos, o Cine
Brasil. Como não poderia deixar de ser
surgiram opiniões distintas, cada uma delas acompanhada por suas justificativas,
recheadas de argumentos. Como é de conhecimento público, toda esta celeuma, até
hoje não chegou a um ponto final. Liminares jurídicas surgem a todo momento
defendendo as opiniões divergentes.
Como
munícipe, envolto no meio de tudo isto, acredito que há alguns pontos que
merecem nossa atenção.
O Cine
Brasil foi uma dos maiores salas de projeção de Minas Gerais. Nas telas do
referido cinema, intermináveis clássicos da cinematografia brasileira e mundial
foram apreciadas. Imagino ser incalculável o total de pessoas que acomodaram-se
nas cadeiras deste cinema, para vivenciar um momento de êxtase cultural. Isto é
fato! Depois do seu primeiro fechamento, e com a chegada cada vez mais
frequente nos lares, das invenções tecnológicas, por várias vezes o Cine Brasil
foi reinaugurado. E infelizmente o resultado foi sempre o mesmo, por falta de
público deixava de funcionar. Vindo de um anos para cá entrar num processo de
abandono. E este processo de abandono foi acarretando outras situações que
poderiam causar algum dano de cunho social.
A
notícia da demolição criou um frisson na cidade. Principalmente em relação às
pessoas que eram contra o procedimento de colocar abaixo o cinema. Caso o
processo de demolição não houvesse iniciado, com certeza a construção que
abriga o falido Cine Brasil estaria lá, da mesma forma, abandonada, entregue às
intempéries, e aos pouquinhos sendo destruída, silenciosamente despedaçada... a
cada dia sendo fragmentada pelas mãos da imortalidade do tempo.
Mas
como já disse anteriormente, um povo que não conhece a sua história, está
fadado a cometer os mesmo erros. E justamente por causa disto que fiquei
imaginado que toda esta celeuma, envolvendo o Cine Brasil, poderia ter tido
outro desfecho. A história poderia estar sendo contada de outra forma.
Confesso
que até hoje não entendi o porque de toda esta problemática, visualizava um cenário
totalmente diferente. A exemplo do que acontece em outras cidades, mesmo sendo cidades
com características e reconhecidas como históricas, ou mesmo com tantas outras construções
de valor histórico. Os diversos interesses, que envolvem a questão em foco,
poderiam ter chegado a um denominador comum.
O
prédio do Cine Brasil, principalmente com sua fachada imponente, poderia ter
sido mantido e o seu interior ter sido adaptado para receber um empreendimento
comercial. Assim, manteríamos um pouco da nossa memória, presente na Praça
Getúlio Vargas, preservaríamos ícones da nossa história e ao mesmo tempo
estaríamos propiciando mais uma possibilidade de desenvolvimento para a cidade.
A empresa que viesse a ocupar o espaço, poderia usar, a preservação do lugar,
como uma peça de marketing. Acredito que seria um final mais agradável para
todos.
Mas
como não foi isto que aconteceu e pelo visto há descontentes para todos os
lados, vamos aguardar cenas do próximo capítulo. Que independente de como será
escrito nunca mais trará aquilo que era o mais importante nesta questão o Cine
Brasil.
Walber Gonçalves de Souza é
professor.
(Artigo publicado no Diário de Caratinga no dia 04/08)
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