terça-feira, 4 de agosto de 2015

Artigo no Diário de Caratinga

A celeuma em que se transformou o Cine Brasil
Prof. Walber Gonçalves de Souza


                Podemos afirmar, com toda a certeza do mundo, que Caratinga não pode ser considerada uma cidade histórica, a exemplo das famosas cidades de Ouro Preto, Mariana, Diamantina e outras mais, que até viraram Patrimônio Histórico Mundial.
                Com a mesma convicção, podemos continuar afirmando que, mesmo não sendo uma cidade histórica, o município de Caratinga tem a sua história. Que merece ser descrita, analisada, estudada e preservada. Por um motivo muito simples e plausível, só assim as futuras gerações poderão ter acesso ao seu passado, possibilitando o crescimento intelectual e cultural do indivíduo.
                Já diria aquela velha máxima, "um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado". E não existe outro caminho, para se conhecer a história é preciso preservá-la. Caso o contrário ficaremos nesta roda viva, repetindo sempre as mesmas coisas, achando que estamos inovando, sendo diferentes.
                Na terra das palmeiras, recentemente vivenciamos esta discussão, em torno da demolição ou não da antiga construção que funcionava, em tempos idos, o Cine Brasil.  Como não poderia deixar de ser surgiram opiniões distintas, cada uma delas acompanhada por suas justificativas, recheadas de argumentos. Como é de conhecimento público, toda esta celeuma, até hoje não chegou a um ponto final. Liminares jurídicas surgem a todo momento defendendo as opiniões divergentes.
                Como munícipe, envolto no meio de tudo isto, acredito que há alguns pontos que merecem nossa atenção.
                O Cine Brasil foi uma dos maiores salas de projeção de Minas Gerais. Nas telas do referido cinema, intermináveis clássicos da cinematografia brasileira e mundial foram apreciadas. Imagino ser incalculável o total de pessoas que acomodaram-se nas cadeiras deste cinema, para vivenciar um momento de êxtase cultural. Isto é fato! Depois do seu primeiro fechamento, e com a chegada cada vez mais frequente nos lares, das invenções tecnológicas, por várias vezes o Cine Brasil foi reinaugurado. E infelizmente o resultado foi sempre o mesmo, por falta de público deixava de funcionar. Vindo de um anos para cá entrar num processo de abandono. E este processo de abandono foi acarretando outras situações que poderiam causar algum dano de cunho social.
                A notícia da demolição criou um frisson na cidade. Principalmente em relação às pessoas que eram contra o procedimento de colocar abaixo o cinema. Caso o processo de demolição não houvesse iniciado, com certeza a construção que abriga o falido Cine Brasil estaria lá, da mesma forma, abandonada, entregue às intempéries, e aos pouquinhos sendo destruída, silenciosamente despedaçada... a cada dia sendo fragmentada pelas mãos da imortalidade do tempo.
                Mas como já disse anteriormente, um povo que não conhece a sua história, está fadado a cometer os mesmo erros. E justamente por causa disto que fiquei imaginado que toda esta celeuma, envolvendo o Cine Brasil, poderia ter tido outro desfecho. A história poderia estar sendo contada de outra forma.
                Confesso que até hoje não entendi o porque de toda esta problemática, visualizava um cenário totalmente diferente. A exemplo do que acontece em outras cidades, mesmo sendo cidades com características e reconhecidas como históricas, ou mesmo com tantas outras construções de valor histórico. Os diversos interesses, que envolvem a questão em foco, poderiam ter chegado a um denominador comum.
                O prédio do Cine Brasil, principalmente com sua fachada imponente, poderia ter sido mantido e o seu interior ter sido adaptado para receber um empreendimento comercial. Assim, manteríamos um pouco da nossa memória, presente na Praça Getúlio Vargas, preservaríamos ícones da nossa história e ao mesmo tempo estaríamos propiciando mais uma possibilidade de desenvolvimento para a cidade. A empresa que viesse a ocupar o espaço, poderia usar, a preservação do lugar, como uma peça de marketing. Acredito que seria um final mais agradável para todos.
                Mas como não foi isto que aconteceu e pelo visto há descontentes para todos os lados, vamos aguardar cenas do próximo capítulo. Que independente de como será escrito nunca mais trará aquilo que era o mais importante nesta questão o Cine Brasil.

Walber Gonçalves de Souza é professor.
(Artigo publicado no Diário de Caratinga no dia 04/08)

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