quinta-feira, 7 de abril de 2016

Artigo de opinião

A HORA É AGORA: FAXINA GERAL
Artigo publicado no dia 22/03 no Jornal Diário de Caratinga


Dizem que quando as coisas chegam ao caos é porque elas estão prestes a melhorar. Se este ditado popular for realmente verdadeiro, a nossa hora é agora, pois o caos parece estar instalado na República Federativa do Brasil em todas as suas esferas e instâncias. Fazendo uma analogia com os últimos acontecimentos que vivenciamos no cenário político do Brasil, podemos afirmar que o caos realmente se instalou. Notícias de toda sorte borbulham a cada minuto, não nos dando tempo sequer de ficar atualizados, tamanha a efervescência dos fatos. E como diria o filósofo Mário Sérgio Cortella, “não podemos perder o foco do que vivemos hoje no Brasil, que não é o auge da sujeira, mas o começo da limpeza”.
Sabemos que os problemas são os mesmos de muitos séculos: corrupção, prevaricação, uso da máquina pública, privilégios, intermináveis esquemas de favorecimento… Enfim, são indizíveis. Sabemos também que ficar analisando quem está menos ou mais envolvido em todas estas situações não vai resolver nada porque não iremos chegar a lugar nenhum, pois cada um apresenta um tipo e grau de envolvimento. Sabemos que há um envolvimento geral de muitos que participam diretamente da administração pública. Mas sabemos também que as coisas não podem ficar assim. Chega, é hora do basta! Chegou a hora de darmos uma faxina geral.
Ainda no meu tempo de infância, por questões de trabalho dos meus pais, aprendi desde cedo a cuidar da casa. Por muito tempo fui o responsável por tomar conta dos meus irmãos, por zelar pela casa. E minha mãe sempre me dizia, para arrumar bem a casa no dia da faxina é preciso tirar as coisas do lugar, limpar e depois sim reorganizar novamente as coisas nos devidos lugares. Minha mãe acrescentava: “não adianta jogar a sujeira para debaixo do tapete; banheiro para ficar limpo tem que jogar água, esfregar, jogar sabão”. Durante muito tempo, seguindo seus ensinamentos, procurei ser um bom faxineiro, gostava de ver as coisas limpas e nos seus respectivos lugares. Sem falar que acabava agradando meus pais.
Fazendo uma simples comparação, se queremos que o Brasil se torne verdadeiramente uma grande nação é preciso que tenhamos coragem de fazer uma faxina geral, não dá mais para jogar a sujeira para debaixo do tapete ou passar um paninho no banheiro. E fazer uma faxina bem feita requer disposição, coragem, atenção, vontade… Por mais que digam que a Polícia Federal está trabalhando, que eles são livres para fazerem os seus devidos trabalhos, o que mais estamos observando a todo o momento é a tentativa de obstrução, de impedir o prosseguimento das investigações e seus respectivos julgamentos. O exemplo mais claro é o do deputado Eduardo Cunha, quanta manobra!
Vejamos algumas situações, no mínimo esdrúxulas, que estão acontecendo por aqui.
Onde já se viu um parlamentar que é procurado pela polícia internacional (INTERPOL) por ter cometido diversos crimes, ser membro de uma comissão que vai julgar possíveis irregularidades da atual gestão. Estou me referindo ao deputado Paulo Maluf.
Onde já se viu as duas casas do poder legislativo, Câmara dos Deputados e Senado, estar ainda sendo presidida por duas pessoas públicas deploráveis. Mesmo depois de tantos escândalos, manobras, artimanhas… Uma vergonha nacional!
Onde já se viu as maiores cortes do país tendo seus membros indicados pelo poder executivo. No mínimo uma situação vexatória, passível de interesses que vão além dos interesses republicanos. Estes cargos deveriam ser ocupados por pessoas que queiram avançar em suas carreiras, mas que estejam dispostas também a disputá-las por meio de concursos públicos independentes. Assim, o processo seria mais transparente e meritocrático. É claro que não impediria problemas de conduta, mas aí já seria problema da consciência de cada um.
Onde já se viu um dito sistema presidencialista ser tão “preso” ao poder legislativo. Há algo errado aí, decidamos o que queremos ser, qual sistema de fato queremos vivenciar: ou sejamos presidencialistas de fato ou parlamentaristas. Este sistema sem identidade já demonstrou não ser eficaz por aqui. Não adianta ficar tentando a sua manutenção.
São tantos casos que poderíamos citar que contribuem para o caos no qual estamos vivendo. É muita sujeira. E sujeira se combate com limpeza, com uma limpeza profunda. Não só de pessoas, mas também das regras do jogo. Das formas de lidar com os poderes da nação. Mas como as regras do jogo são modificadas pelas pessoas, que elas sejam as primeiras a passar pelo processo de higienização. Mas lembre-se somos os corresponsáveis pela limpeza que queremos.
Walber Gonçalves de Souza é professor.

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